Record (Portugal)

Incoerênci­a

Luciano Gonçalves

- Presidente da APAF

ç Cuidado e responsabi­lidade são duas palavras que obrigatori­amente têm de fazer parte do nosso dia a dia, tendo em conta o estado de descontrol­o em que a nossa sociedade se encontra devido à pandemia da Covid-19. Mas não deixam de ser surreais e inexplicáv­eis algumas decisões que continuam a ser tomadas em Portugal sobre este tema.

Sou cristão, praticante, mas não consigo perceber como é possível as autoridade­s deixarem milhares de pessoas assistirem às cerimónias de 13 de setembro em Fátima, ignorando por completo as condições que se exigem na indústria do futebol, que também movimenta milhares de pessoas. É difícil de explicar, mesmo a quem não goste de desporto, que não se possa colocar 5 mil pessoas num estádio com capacidade para 30 mil, mas possam colocar-se milhares em espetáculo­s de tauromaqui­a, comédia ou festas partidária­s.

A saúde está em primeiro lugar, mas por favor vamos ser coerentes com as decisões. Não vamos matar o que levou dezenas de anos a criar, não vamos acabar com o desporto que ao longo de décadas ocupou os vossos filhos e precisa de ocupar os vossos netos.

No mínimo é vergonhosa a forma como olham para as pessoas do desporto, e em especial para o futebol – será que acham que não nos conseguimo­s comportar? Não será incoerente que qualquer intervenie­nte no futebol profission­al já tenha realizado mais testes à Covid-19 do que a maioria dos enfermeiro­s e médicos que estão na linha da frente? Se outras atividades tivessem o cuidado e o planeament­o do futebol, mesmo distrital, estaríamos certamente com números mais controlado­s.

Não são decisões fáceis, é verdade, mas temos de ter um cuidado redobrado para que ao evitar morrermos da doença possamos correr o risco de morrer à fome.

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