PAULO LOPO “Estarei disponível nas próximas eleições”
Ex-presidente da SAD do Leixões, de 55 anos, assume desejo de liderar os leões. Garante ser sócio há duas décadas e alvo de campanha de difamação. ‘Chumbou’ Varandas na última AG
ç É preciso começar por um esclarecimento. É benfiquista?
PAULO LOPO – Não sou. Já fui sócio do Benfica, do FC Porto, do Boavista, do Belenenses e de outros clubes, por cortesia. Porque a minha empresa fazia eventos. Viajávamos com clientes, tínhamos muitas atividades no âmbito do futebol, com a Seleção e clubes. Se quisesse ser presidente do Benfica, tinha uma boa oportunidade, porque o Benfica vai a eleições este mês, mas não faz parte do meu perfil. É um clube com o qual não me identifico.
+ Então como surgiu associado ao Benfica? Circularam fotos de si vestido de águia ao peito...
PL – São fotografias de eventos da minha empresa, onde tinha uma camisola do Benfica vestida. O Bruno de Carvalho fez uma grande campanha nas redes sociais para limitar a minha capacidade de ser candidato ao Sporting. Provavelmente, na altura sabia que eu teria essa ambição. Hoje em dia, as pessoas têm dúvidas sobre isso, quando sou sócio do Sporting há praticamente 20 anos e o meu filho é sócio desde que nasceu. Tenho muitas fotografias minhas com ele. Até fomos à inauguração do Estádio José Alvalade. Mas reconheço que o BdC fez uma campanha forte para ligar a minha imagem ao Benfica, provavelmente com receio.
+ Sendo sócio do Sporting, esteve na última assembleia geral (AG) do clube, onde Frederico Varandas viu o Relatório e Contas e o Orçamento serem chumbados?
PL – Estive.
+ Como votou?
PL – Votei contra as propostas.
+ Porquê?
PL – Não acredito neste modelo de gestão que o Sporting tem neste momento. Não me revejo na forma como os negócios estão a ser feitos. Ainda na última AG da Liga onde estive, ouvi um presidente de um clube dizer que era uma vergonha o V. Setúbal ter descido de divisão, porque devia 300 mil euros ao Estoril, e o Sporting não ter descido quando não pagava o treinador que foi buscar e teve de fazer um acordo para se salvar. Custa-me muito, como sportinguista, ouvir isso.
+ É por isso que se colocou como possível candidato em 2018?
PL – No passado não fui candidato. Existia uma lista que, caso saísse vitoriosa, me iria convidar para ser presidente da SAD. Era a lista do Rui Rego. Não me posso considerar candidato, porque o Sporting tem uma direção eleita de uma forma legítima. Só se um dia o Sporting deixar de ter uma direção eleita é que eventualmente poderia estar disponível para ajudar o meu clube.
+ Mais tarde ou mais cedo, haverá eleições. Será candidato?
PL – Quando houver eleições, estarei disponível, caso os sportinguistas achem que serei fundamental para o Sporting devido à qualidade de gestão que fui apresentando ao longo destes tempos, acumulada com o conhecimento adquirido no futebol.
+ Tem projeto montado?
PL – Estou atento. Não sou candidato, porque o Sporting deve estar unido e, enquanto esta for a direção, estarei com ela, mas discordando de muita coisa que fazem e manifestando a minha discordância quando tiver oportunidade. O Sporting precisa de união. Se surgir a oportunidade, farei uma introspeção e tomarei a decisão que for melhor para o Sporting e não para mim.
+ Mas tem sido a falta de união a provocar instabilidade.
PL – Frederico Varandas podia ter tido estabilidade neste mandato se não hostilizasse quem está contra as suas ideias. Se procura estabilidade, não pode ir contra as claques e antigos dirigentes. Não pode procurar inimigos dentro do clube, mas sim aliados e amigos. Claro que, se se hostiliza
“POR CORTESIA, JÁ FUI SÓCIO DO BENFICA, DO FC PORTO, DO BOAVISTA, DO BELENENSES E DE OUTROS CLUBES”
“Sporting está confortável com ausência de adeptos”
parte significativa dos adeptos, não se pode ter estabilidade. O que o Sporting precisa no futuro é de um presidente que consiga e queira união.
+ O Paulo Lopo tem essa capacidade?
PL – Não tenho dúvidas nenhumas, se tivesse essa oportunidade conseguiria. Nunca iria cortar, nem as rendas, luz e águas, nem nada às claques. Pelo contrário. Ia sentar-me de frente com elas e decidir as regras de relacionamento, tendo respeito pelo que é a entidade máxima que é o Sporting e sabendo que eles estão ali para servir o Sporting e não do Sporting. Não é hostilizando que criamos união. O Sporting é um clube muito desunido. É responsabilidade de quem o gere.
ç É o porta-voz do movimento “Sem adeptos não há futebol”. Tem resultado?
PL – Não querendo que o movimento tenha todos os louros, obviamente tem alguns, a realidade é que a Liga já conseguiu levar adeptos aos estádios e a Federação também. Mas achamos pouco. Queremos que se possam fazer mais pilotos com 20% ou 30% do público. Assim, a nossa atividade não vai morrer.
+ Como vê o posicionamento do Sporting nesta matéria?
PL – Não existe um prenúncio maior do que é a dificuldade de governação do Sporting que é o estar confortável com a ausência de público. Há dois clubes, o Benfica e o Sporting, que não têm feito nada ou quase nada para terem adeptos nos estádios. Se calhar existem razões para lá da importância dos adeptos...
+ O conflito com as claques será o motivo?
PL – Provavelmente isso pesa na tomada decisão do Sporting, de só se ter manifestado oficialmente a favor do regresso dos adeptos há muito pouco tempo, depois de ter sido divulgado o nosso manifesto.
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+ Como se supera isso?
PL – Com diálogo, mas se Frederico Varandas acha que o que tem feito, tem feito bem, então coloque-se à prova e convoque eleições. Deixe os sportinguistas avaliarem o seu trabalho.
+ Eleições agora não trariam mais instabilidade?
PL – Mais instabilidade do que se passa hoje não pode haver. A única forma de criar estabilidade era Varandas sujeitar-se a eleições e ganhar com maioria considerável. As pessoas que estão contra teriam de se calar.
+ Quais são, no seu entender, as grandes falhas de Varandas?
“A ÚNICA FORMA DE CRIAR ESTABILIDADE SERIA VARANDAS SUJEITAR-SE A ELEIÇÕES E VENCER COM MAIORIA CONSIDERÁVEL”
PL – Principalmente as atitudes de hostilização. Não as dificuldades ao nível da comunicação, mas isso não é problema para os sportinguistas. Tem mais a ver com a postura hostil, o modelo de gestão e um determinado egocentrismo. Todas as críticas que Frederico Varandas apontava a BdC, hoje assentam-lhe bem...
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