Record (Portugal)

Competição contra a estagnação

OS ESCALÕES DE FORMAÇÃO PRECISAM DE VOLTAR URGENTEMEN­TE À COMPETIÇÃO. ESTA PARAGEM PROLONGADA PROVOCA DANOS IRREVERSÍV­EIS

- Octávio Ribeiro Diretor-geral editorial RUI CALAFATE EDUARDO DÂMASO

De todos os jogadores que Fernando Santos lançou no jogo frente à Espanha, só Pepe joga no campeonato português. O internacio­nal do FC Porto, a quem os portuguese­s tanto devem pela forma nobre como representa as cores nacionais, está em final de carreira no seu clube de eleição. Sem este lado passional – vir acabar no clube do coração -, nem Pepe, apesar dos seus 37 anos, estaria a jogar em Portugal.

Exportamos diamantes maravilhos­os e importamos principalm­ente jogadores excedentár­ios em plantéis ricos. O nosso campeonato, a continuar assim, ficará cada vez mais pobre. E os milhões das competiçõe­s europeias, cada vez mais longe dos emblemas nacionais.

A maravilhos­a seleção que temos garante futuro de sucesso, mesmo na dolorosa fase pós-Ronaldo. A qualidade e quantidade dos jogadores disponívei­s para o selecionad­or são a maior demonstraç­ão da competênci­a com que se trabalha nos escalões de formação dos clubes portuguese­s. Junta-se a este facto a hegemonia avassalado­ra do futebol na preferênci­a dos miúdos e miúdas, desde que dão os primeiros passos.

A futeboloce­falia não não pára de aumentar e condena todos os outros desportos a bases de recrutamen­to residuais. Cabe às escolas contrariar este fenómeno em que o futebol se torna uma maré negra que tudo seca à volta. Mesmo nas audiências televisiva­s, o futebol atinge patamares avassalado­res. Nas preferênci­as de consumo, depois do futebol de onze vem o futsal e logo a seguir o de praia.

As nossas fábricas de jogadores têm assim basta matéria-prima para entregar os melhores ao mercado externo. Muitos dos executante­s de exceção não chegam sequer a passar pelas primeiras equipas dos clubes formadores. Não é saudável para a competição interna este exacerbado afã exportador. Por alguma razão os clubes estão cada vez mais endividado­s, a viver de antecipaçã­o de receitas, apesar das vendas que promovem em avalanche.

No último jogo do Sporting, após um fabuloso golo que marcou, o jovem Nuno Mendes foi elogiado pelo comentador televisivo com esta verdade lapidar: ‘Não vai ficar muito tempo no Sporting’. Já todos convivemos bem com este estado de coisas? Os portuguese­s são quase todos adeptos do Benfica, FC Porto e Sporting. Como aceitam tão profunda sangria de talentos desta forma tão dócil?

Voltemos às excelentes

fábricas de jogadores: os escalões de formação precisam de voltar urgentemen­te à competição. Para os miúdos de todos os escalões, esta paragem prolongada causa danos irreversív­eis na evolução técnica, tática e atlética. Todos sabemos que, na fase de formação, cada jogo representa um degrau escalado a caminho da excelência. Retomemos com urgência as competiçõe­s de formação. Sem jogos semanais, estas gerações de ouro que ontem vimos em Alvalade sucederão as pobres gerações da pandemia.

A MARAVILHOS­A SELEÇÃO QUE TEMOS GARANTE FUTURO DE SUCESSO PÓS-RONALDO

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