Competição contra a estagnação
OS ESCALÕES DE FORMAÇÃO PRECISAM DE VOLTAR URGENTEMENTE À COMPETIÇÃO. ESTA PARAGEM PROLONGADA PROVOCA DANOS IRREVERSÍVEIS
De todos os jogadores que Fernando Santos lançou no jogo frente à Espanha, só Pepe joga no campeonato português. O internacional do FC Porto, a quem os portugueses tanto devem pela forma nobre como representa as cores nacionais, está em final de carreira no seu clube de eleição. Sem este lado passional – vir acabar no clube do coração -, nem Pepe, apesar dos seus 37 anos, estaria a jogar em Portugal.
Exportamos diamantes maravilhosos e importamos principalmente jogadores excedentários em plantéis ricos. O nosso campeonato, a continuar assim, ficará cada vez mais pobre. E os milhões das competições europeias, cada vez mais longe dos emblemas nacionais.
A maravilhosa seleção que temos garante futuro de sucesso, mesmo na dolorosa fase pós-Ronaldo. A qualidade e quantidade dos jogadores disponíveis para o selecionador são a maior demonstração da competência com que se trabalha nos escalões de formação dos clubes portugueses. Junta-se a este facto a hegemonia avassaladora do futebol na preferência dos miúdos e miúdas, desde que dão os primeiros passos.
A futebolocefalia não não pára de aumentar e condena todos os outros desportos a bases de recrutamento residuais. Cabe às escolas contrariar este fenómeno em que o futebol se torna uma maré negra que tudo seca à volta. Mesmo nas audiências televisivas, o futebol atinge patamares avassaladores. Nas preferências de consumo, depois do futebol de onze vem o futsal e logo a seguir o de praia.
As nossas fábricas de jogadores têm assim basta matéria-prima para entregar os melhores ao mercado externo. Muitos dos executantes de exceção não chegam sequer a passar pelas primeiras equipas dos clubes formadores. Não é saudável para a competição interna este exacerbado afã exportador. Por alguma razão os clubes estão cada vez mais endividados, a viver de antecipação de receitas, apesar das vendas que promovem em avalanche.
No último jogo do Sporting, após um fabuloso golo que marcou, o jovem Nuno Mendes foi elogiado pelo comentador televisivo com esta verdade lapidar: ‘Não vai ficar muito tempo no Sporting’. Já todos convivemos bem com este estado de coisas? Os portugueses são quase todos adeptos do Benfica, FC Porto e Sporting. Como aceitam tão profunda sangria de talentos desta forma tão dócil?
Voltemos às excelentes
fábricas de jogadores: os escalões de formação precisam de voltar urgentemente à competição. Para os miúdos de todos os escalões, esta paragem prolongada causa danos irreversíveis na evolução técnica, tática e atlética. Todos sabemos que, na fase de formação, cada jogo representa um degrau escalado a caminho da excelência. Retomemos com urgência as competições de formação. Sem jogos semanais, estas gerações de ouro que ontem vimos em Alvalade sucederão as pobres gerações da pandemia.
A MARAVILHOSA SELEÇÃO QUE TEMOS GARANTE FUTURO DE SUCESSO PÓS-RONALDO