O grande reforço do Sporting
JOÃO MÁRIO TEM REUNIDAS AS CONDIÇÕES PARA SER UMA DAS ESTRELAS MAIS BRILHANTES DA LIGA. NUM ANO DE MUITAS MUDANÇAS NAS PRINCIPAIS EQUIPAS NACIONAIS, É CANDIDATO A INTERFERIR NO DESTINO DO PRÓPRIO CAMPEONATO
Mantém os traços juvenis do rosto de menino bem comportado, como se eternizasse o adolescente que arrebata paixões, entre treinadores e adeptos, desde os tempos das camadas jovens de FC Porto, Sporting e Seleções Nacionais. Aos 27 anos, João Mário regressa a casa marcado pelos maus-tratos italianos, pela menor visibilidade de um clube modesto em Inglaterra e de outro de média expressão na Rússia. Partiu campeão europeu para uma das maiores potências europeias (Inter Milão), regressa quatro anos depois no auge das suas potencialidades futebolísticas, disponível para ajudar o clube do coração e carente do carinho que lhe devolva o calor humano e, com ele, a felicidade arredia desde que abandonou Alvalade.
Numa equipa jovem e inexperiente, JM está destinado a desempenhar o papel de exemplo, estrela e máxima referência da equipa. Precisa agora de adquirir cumplicidade com as ideias de Rúben Amorim, de modo a reunir as condições para exercer o seu futebol requintado, inteligente, associativo, que não se contenta em acrescentar talento à produção global, antes a multiplica pelo coletivo, tornando-o melhor e com armas mais sofisticadas.
JM é um manual didático que exerce nos caminhos do miolo, onde tudo se concebe, e do ataque, onde tudo se define. Na tresloucada fúria de choques, correrias e constantes infrações, as mais graves das quais pondo em risco a própria integridade física dos intervenientes, ele recusa a pressa e o descontrolo emocional; mantém o perfil discreto, impõe a pausa e a perfeição de gestos e movimentos, prova de que com cabeça, talento individual, fantasia, classe, ética e pudor se pode chegar aos mesmos lugares – com a diferença de fazê-lo em melhores condições para estabelecer a diferença. Só por confusão inaceitável para quem percebe o jogo alguém pode confundir um jogador tão especial e delicado, portador de um estilo, orientado por intervenção cuidada e rigor estético, com os elementos normalmente apontados para o diminuir: lentidão, displicência, falta
Em 2016, depois de ganhar o Europeu, aceitou o desafio e transferiu-se. Era um dos melhores médios do Mundo
No Inter não foi feliz. O treinador que o referenciou saiu cedo e, a partir de então, negaram-lhe condições para se impor de compromisso e intensidade.
Numa altura em que o futebol parece obcecado em resumir-se a números para poder medir elementos do jogo sem relevância, JM é uma deceção que, para mal dos seus pecados, só joga futebol como os deuses. Um jogador brilhante a executar decisões lógicas e do senso comum mas que adquire dimensão superior quando abdica da burocracia e se entrega à criação de soluções personalizadas, sem se surpreender com o engano que produz em quase toda a gente. Com a bola nos pés, chega a ser deslumbrante quando se entrega a uma condução suave e segura, indiferente aos perigos que se escondem a cada esquina; quando segue o instinto e alimenta a criação de espaços, limpando adversários da frente ou solicita a participação de companheiros nessa aventura que se propõe levar por diante. É um predestinado que, para lá da bola, transporta intenções não confessadas. Todas elas capazes de interferir, se não no resultado, no ascendente territorial que conduz à imposição do exército que leva atrás de si.
JM é um prodígio de imaginação, cuja arte principal e rara é impor-se simplificando ao máximo as situações mais complexas. Um craque sereno, imperturbável, confiante e, vistas as coisas sob determinado prisma, arrogante quando procura levar por diante ações em que só ele acredita. É este criador futebolístico sublime, capaz de estabelecer diferenças a cada instante, com os mais diversos argumentos, nas mais variadas zonas do campo, que o Sporting contratou. Um reforço indiscutível, que tem condições para ser uma das estrelas mais brilhantes da Liga. Num ano de muitas mudanças nas principais equipas nacionais, é candidato a interferir no destino do próprio campeonato.
JOÃO MÁRIO É UM MANUAL DIDÁTICO QUE EXERCE NOS CAMINHOS DO MIOLO E DO ATAQUE
Depois de passagem curta pelo West Ham foi para o Lokomotiv Moscovo. Correu bem. Mas ficou longe dos grandes palcos