Record (Portugal)

Carlos Barbosa da Cruz Advogado Contraste

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ç Os processos eleitorais no Sporting são sempre ponto alto na vida associativ­a do clube, com largo impacto mediático e amplo escrutínio dos candidatos e seus programas. Há frente a frente, debates, mesas redondas, confronto de ideias por parte de todos os intervenie­ntes.

Esta postura faz parte dos valores democrátic­os estruturan­tes do clube, e, sem negar que, por vezes, há excessos, permite uma coisa elementar: que os sócios se informem exaustivam­ente.

Não pode ser maior o contraste com o processo eleitoral em curso no Benfica, em que nada disso ocorre.

É patente a desigualda­de entre o incumbente, que se aproveita de todas as vantagens que a sua posição lhe proporcion­a, e os insurgente­s, relegados para o plano de uns arrivistas, acusados de quererem tomar conta do clube.

Com uma agravante: o facto de a data das eleições ser em final de outubro permitiu ao atual presidente contratar treinador e jogadores com o dinheiro do Benfica, colhendo os inerentes benefícios, sem que ninguém o possa criticar por isso.

Custa-me entender umas eleições em que a televisão do clube as não cobre, e que as glórias são arregiment­adas, em que não há debates, porque o incumbente não tem dotes comunicaci­onais, em que é dito – pasme-se – que o seu sucessor será preparado durante o próximo mandato, como se os sócios não tivessem uma palavra a dizer.

A equipa de Jorge Jesus não tem arrasado como ele prometeu, mas, em sua substituiç­ão, Luís Filipe Vieira vai arrasar nestas eleições, obtendo uma vantagem expressiva. Só que essa vitória ficará indelevelm­ente manchada por um défice democrátic­o.

Entre outras ‘pérolas’, que foram proferidas neste perío

COMO AS COISAS EVOLUEM: SPORTING É HOJE MUITO MAIS DO

POVO DO QUE O BENFICA

do, destaco a que alguém disse, que os debates eram indesejáve­is, porque traziam ruído nocivo. Prefiro os inconvenie­ntes do barulho, mesmo que nem sempre contido nos decibéis aceitáveis, ao silêncio ensurdeced­or de uma medíocre encenação daquilo que deveriam ser eleições, num clube com os pergaminho­s do Benfica.

Não me importa o risco de pertencer a um clube de regateiros, mas o que nunca aceitarei é fazer parte de um clube de conformado­s.

Curioso como as coisas evoluem: o Sporting tantas vezes criticado pelas suas pretensas origens aristocrát­icas é hoje muito mais do povo do que o Benfica.

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