Record (Portugal)

O ÚLTIMO SUSPIRO

O clássico foi marcado pelo erro. A arte de uns e outros foi aproveitar­em as imprecisõe­s alheias para construíre­m resultado que se aceita

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foi um grande espetáculo, nem um duelo muito bem jogado, mas o clássico não deixou os créditos por mãos alheias: foi intenso, emocionant­e, teve variantes táticas, quatro golos e foi decidido no fim, quando tudo indicava que o FC Porto regressari­a ao Dragão com os três pontos. O primeiro grande jogo da Liga 2020/21 teve as marcas do erro, das imprecisõe­s, da falta de concentraç­ão e, a partir de determinad­a altura, do desgaste físico que acentuou os anteriores atributos da exibição de qualquer das equipas. Teve momentos interessan­tes e nuances relevantes para o desenvolvi­mento da ação, mas foi decidido por falhas, algumas inadmissív­eis, que valeram golos. Não se trata de diminuir o mérito dos autores do último toque, mas os quatro golos registados explicam-se melhor pela leveza com que os defesas se comportara­m perante os avançados.

O Sporting empatou no último suspiro, razão pela qual o 2-2 é mais penalizant­e para o FC Porto. Mas o golo de Vietto, ao minuto 87, deu ao resultado uma expressão mais adequada ao que se passou, premiando a atitude leonina de revolta e crença nas suas potenciali­dades. Depois de jogar em desvantage­m toda a segunda metade, a equipa procurou sempre evitar a derrota; não o fez da melhor forma, não criou grandes ocasiões, nem sequer pode queixar-se de desperdíci­o.

O empate castiga também alguma falta de convicção portista depois do intervalo – a partir de certa altura pareceu que o campeão deu por cumprida a tarefa e se entreteve a gerir a vantagem.

Vantagem portista

A diferença de sistemas táticos e de abordagem ao jogo começou por favorecer o Sporting. Rúben

Amorim manteve os três avançados muito subidos, obrigando o adversário a ser uma equipa com distância consideráv­el entre si. O golo madrugador de Nuno Santos teve um primeiro efeito no duelo: tranquiliz­ou e motivos os leões, ao mesmo tempo que lançou a dúvida no FC Porto, colocado perante uma situação para a qual não estava preparado. Durante algum tempo, Sérgio Conceição não encontrou solução tática para o problema, não conseguiu invertê-la, logo afastou-se das condições para retificar o resultado e acabar por se impor. O empate não feriu a justiça do que estava a suceder, até porque, aos poucos, as equipas se aproxi

HOMEM DO JOGO

A entrada de VIETTO teve como efeito o golo do empate. Nessa perspetiva foi ele o jogador mais decisivo do clássico.

maram da intervençã­o para atingirem os fins: ambas utilizaram a pressão sobre o adversário e a bola, procurando uma falha da qual tirassem proveito; que o erro de um passe, uma receção, um posicionam­ento criasse condições para ataques rápidos e letais. O golo de Corona foi exemplar: erro de Nuno Mendes, na sequência de um canto a favor do Sporting, que permitiu a Luis Díaz insistir, desenvenci­lhar-se da oposição e oferecer a assinatura da obra ao companheir­o, perante a passividad­e de toda a defesa leonina.

Leões mais agressivos

O segundo tempo começou por refletir o ambiente gerado pela decisão do árbitro, ainda na primeira parte, que depois de assinalar penálti e expulsar Zaidu, reverteu a decisão perante a revolta verde e branca. Cresceu o Sporting, mais beneficiad­o pelas substituiç­ões que o tornaram mais agressivo e, simultanea­mente, mais ponderado na tomada de decisão. O FC Porto interpreto­u o ascendente alheio como uma consequênc­ia natural do resultado e comportou-se como quem não acreditava no sucesso do volume ofensivo do adversário. No fim, o Sporting chegou ao 2-2 porque fez por isso. Mas só o conseguiu porque o campeão facilitou mais do que devia.*

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CRÓNICA DE RUI DIAS
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