SPRINTAR NA ALTA MONTANHA
Esperava-se uma ‘etapa’ complicada, mas nota artística do Benfica ficou na linha da goleada. Rio Ave quis fazer voz grossa... mas saiu falsete
ç Por culpa de um rapaz que tem roubado – e bem! – a atenção de tantos portugueses no início de cada tarde pelo que está a fazer em Itália, damos por nós a pensar nas nossas vidas na linguagem do ciclismo. Declaro-me culpado, João Almeida! Mas vamos lá ao futebol. É que o Benfica enfrentava, de facto, uma etapa de alta montanha, nem que fosse pela história das visitas a Vila do Conde. Afinal, tem sido um terreno cronicamente traiçoeiro, com as águias a somarem 16 vitórias nos 26 jogos disputados em casa do Rio Ave na Liga NOS. Além disso, só por quatro vezes ganharam por margem maior do que um golo e só uma aconteceu nos últimos 20 anos: 2-0, em 2013, com um tal Jorge Jesus ao leme. Até se podia pensar que uma tirada importante como esta fosse começar relativamente tranquila, mas as águias partiram logo o grupo, com a nota artística de que JJ tanto gosta. De facto, foi um lance em que cada toque tinha de ser perfeito: Gabriel intercetou um passe no limite, Rafa controlou e cruzou, Darwin desviou levemente de cabeça, Everton assistiu de calcanhar e Waldschmidt disparou de bazuca para o fundo das redes. Já na frente, o Benfica nunca deixou de trabalhar para aumentar a distância para o pelotão. Como? Pressão alta constante e a tentar forçar os erros que os vila-condenses cometeram em demasia para quem queria sonhar.
O Rio Ave queria fazer voz grossa para reagir, mas só se ouvia um falsete nada intimidador, com a equipa da casa quase sempre a cair nas alas de forma inconsequente. E os erros. Sempre os erros. Aderllan adormeceu, Waldschmidt roubou e serviu Darwin, que festejou o golo por que tanto anseia... até o vídeo-árbitro dizer ‘Alto!’ e mandar anular devido a fora-de-jogo (19’). Dez minutos depois, Darwin esqueceu a obsessão do tiro certeiro e brilhou para oferecer mais um a Waldschmidt, mas a linha que separou o Benfica da goleada voltou a ficar cravada na relva. Sufocados, os homens de Mário Silva ‘ameaçaram’ num remate prensado de Francisco Geraldes, até que – e voltemos ao ciclismo – o terceiro ataque das águias despedaçou o pelotão de vez. Darwin encheu o peito e mostrou cabedal para ganhar a Ivo Pinto na esquerda, cavalgou e teve paciência para descobrir Waldschmidt, que descomplicou na finalização mesmo antes do apito para o descanso. Bem,
era a zona do reabastecimento.
Reação tímida
Numa zona mais plana da etapa, o Rio Ave parecia acordar com energia extra. A primeira oportunidade real surgiu por intermédio de Lucas Piazón, um dos poucos com o mínimo rasgo de inspiração, que obrigou Vlachodimos a uma defesa atenta (54’), mas o Benfica geria com muita gente talentosa na frente. De tal forma que a fome de Darwin esteve perto de ser saciada aos 70’, quando a linha de fora-de-jogo lhe tirou um penálti. Aproximava-se a reta da meta e Gilberto, bombeiro de serviço para o lugar do lesionado André Almeida, foi limpar um possível problema quando Gabrielzinho se preparava para reduzir distâncias, mas ainda havia forças para um sprint fatal. Pizzi cruzou, Seferovic cabeceou e Gabriel estava lá para aproveitar o ressalto: um 3-0 para o Benfica apenas visto em casa do Rio Ave, para a Liga, em... 1979. No que diz respeito a esta Volta a Portugal, que ainda tantas etapas tem, o Benfica superou a alta montanha de Vila do Conde a acelerar e com números enganadores, enquanto a concorrência mais direta pela vitória final fica a 5 minutos. Perdão, 5 pontos. E aqui entre nós... Que o nosso português em Itália continue a deixar-nos a falar de ciclismo!
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