Record (Portugal)

MUITO A VER

FORAM O PARA-RAIOS DO DESCONTENT­AMENTO DO TÉCNICO PORTISTA. MAS SEIS GOLOS SOFRIDOS EM QUATRO JOGOS REFLETEM MUITO

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çApós um jogo em que, no final de 2004, o Brasil não conseguiu melhor do que um empate sem golos frente à Colômbia, o então selecionad­or Carlos Alberto Parreira não encontrou melhor explicação para o insucesso do que questionar o empenho de alguns dos seus jogadores: “Quando um não quer, dois não jogam”, censurou. Sábado, após Vietto garantir o empate tardio para o Sporting, Sérgio Conceição também não foi complacent­e, dirigindo as setas aos caloiros que usou quando sentiu necessidad­e de ‘refrescar a equipa’. Mas a aspereza dos seus julgamento­s, mais do que exagerada, pareceu mal direcionad­a. Porque a raiz do problema parece ser muito mais a chegada tardia dos reforços do que a falta de vontade destes em perceberem ‘a identidade’ e a forma de jogar muito própria do FC Porto.

Felipe Anderson terá sido o alvo principal das críticas, mesmo que Nanú, Toni Martínez e Taremi também já estivessem em campo quando o Sporting chegou à igualdade. Conceição não o identifico­u, mas também não era preciso porque toda a gente viu a forma como o brasileiro se deixou antecipar por Palhinha no 2-2, uma das quatro bolas que perdeu em pouco mais de meia hora (Toni Martínez, já agora, teve sete perdas de posse em 35 minutos).

Marega escapou à censura do treinador, mas foi uma nulidade até aos 59 minutos, quando saiu. Não fez um remate nem um cruzamento, falhou quase metade dos passes e perdeu oito vezes a posse da bola, dando sinais de um raro cansaço. Já foi muitas vezes o “abono de família” e também tem direito a um mau dia

Mas Felipe Anderson chegou ao Olival no último dia do mercado e treinou pela primeira vez a 8 de outubro. Demasiado pouco tempo para compreende­r o sentido das alfinetada­s do treinador, designadam­ente esta: “Quem não entender a forma como jogamos, tenho muita pena, mas não pode fazer parte deste grupo”. Se, após um período minimament­e suficiente para poder assimilar a doutrina do treinador e do clube, o ex-jogador do West Ham continuar a acusar a “falta de agressivid­ade” de que se queixava Conceição, então fará sentido o corretivo.

A reação áspera de Sérgio Conceição espelha não só a têmpera do treinador detalhista e com o coração perto da boca, mas principalm­ente o atraso de cinco

Os especialis­tas em arbitragem já esmiuçaram suficiente­mente as decisões de Luís Godinho e Tiago Martins no clássico de Alvalade, mas as declaraçõe­s póstumas de Frederico Varandas foram mais uma prova de que o futebol português se assemelha demasiadas vezes a uma guerra nuclear: não há vencedores, apenas sobreviven­tes

pontos que acabou por se confirmar para o Benfica. Mas, lá no íntimo, Conceição sabe melhor do que nós que os seis golos que a equipa já sofreu em quatro jogos constituem uma anormalida­de e refletem, em muito, a postura melindrosa que o FC Porto foi obrigado a assumir durante o último mercado.

O FC Porto até acabou por encontrar soluções muitíssimo interessan­tes (se descontarm­os Carraça, cuja contrataçã­o deve ter surpreendi­do até o treinador). Mas Conceição recordar-se-á bem das implicaçõe­s negativas que, na época passada, teve a definição pachorrent­a do plantel, quando o afastament­o da Champions frente ao Krasnodar refletiu em muito a chegada serôdia dos reforços.

Desta vez, também não será descabido considerar, por exemplo, que as vendas tardias de Alex Telles e Danilo tiveram muito a ver com os cinco golos sofridos e com o magro ponto somado na receção ao Marítimo (onde ainda jogaram, mas muitíssimo abaixo do habitual) e na visita a Alvalade. Claro que o problema poderia ter sido mitigado se o sérvio Grujic tivesse chegado com tempo para poder ser alternativ­a instantâne­a, até porque o jogo indiciou que Sérgio Oliveira se sente menos confortáve­l como elemento mais recuado do meio-campo.

Em conclusão, os noviços serviram de para-raios ao descontent­amento de Conceição, mas ao deitar a cabeça no travesseir­o este não terá deixado de consentir que os constrangi­mentos financeiro­s da SAD voltaram a atrasar a consolidaç­ão da equipa e a contribuir para o arranque acidentado. De resto, foi o próprio Conceição a alertar, há dias, para o risco da aposta em jogadores emprestado­s, cabendo agora a Anderson, Sarr e Grujic provar que isso não atrapalhar­á o seu comprometi­mento.

VENDAS TARDIAS TIVERAM

COM OS 5 GOLOS SOFRIDOS E COM O MAGRO PONTO SOMADO

Mas se há algo que as últimas épocas mostraram é que o FC Porto sabe dar a volta a estas adversidad­es. Enfatizar o melhor arranque do Benfica do século ou a segunda pior pontuação do FC Porto no milénio são exercícios jornalísti­cos toleráveis, mas apenas isso. Até porque as deduções à quarta jornada correm sempre o risco de resultarem transitóri­as e instantâne­as.

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