Nas costas dos outros eu vejo as minhas
Luís Miguel Henrique V. SETÚBAL ENFRENTA UM DESAFIO BRUTAL E O DESTINO PODE SER MUITO CRUEL SE RAPIDAMENTE NÃO ARREPIAR CAMINHO. EXEMPLOS DO BELENENSES OU DO V. GUIMARÃES DEVEM SER SEGUIDOS
ç No passado fim de semana, dois históricos do desporto português foram a eleições com resultados estruturalmente diferentes. No Clube de Futebol Os Belenenses (CFB), a decisão foi a da continuidade e confiança. Por seu turno, no Vitória Futebol Clube (habitualmente rebatizado de V. Setúbal - VFC) a decisão dos seus sócios foi a da rutura com o passado tão nocivo e da opção por novas lideranças.
Ambas as organizações desceram ao ‘inferno’ das divisões inferiores, contudo de forma bem diferente. O CFB de forma pensada, planeada e estruturada optou voluntariamente por essa via, traçando um plano a médio/longo prazo que tem vindo a conseguir implementar muito pela visão e resiliência da equipa liderada por Patrick
Morais de Carvalho e dos sócios azuis. Desta forma, o CFB a pouco e pouco tem conseguido subir, patamar a patamar, a escadaria do sucesso do seu projeto e alcançar o equilíbrio orçamental, a sustentabilidade financeira, manutenção do ecletismo desportivo, competitividade das suas equipas de futebol de formação e modalidades amadoras, defesa do seu património tangível e intangível (nomeadamente a recuperação integral da sua marca). Muito ainda falta fazer a Patrick, à sua equipa e aos sócios do CFB, mas claramente sente-se que a organização tem uma ideia, um plano, uma liderança e os apoios mínimos necessários à concretização dos seus objetivos… Vai no caminho certo. Espero que o consigam.
Quanto ao VFC o desafio é brutal, enorme, e o destino pode ser muito cruel se rapidamente não arrepiar caminho. Os sócios do VFC, a cidade/região de Setúbal e as suas forças vivas (públicas e privadas) serão a breve trecho confrontados com decisões necessariamente difíceis de tomar. Se o VFC e Setúbal desejarem seguir alguns dos melhores exemplos e práticas, poderão olhar para o Belenenses ou mesmo para o outro Vitória, que sediado na cidade de Guimarães, nos dias imediatamente a seguir à sua descida de divisão (2006) – toda a cidade se mobilizou no apoio ao clube e conseguiu reerguê-lo novamente à I Liga. Vimaranenses orgulhosos que nunca haviam sido sócios do Vitória faziam filas para se associar. Avós e pais faziam os seus netos e filhos sócios do Vitória, empresas deram o seu apoio e contributo financeiro, logístico e/ou operacional ao clube num momento difícil.
Desta forma o que precisa o VFC? Levantamento da informação sobre situação financeira/económica/jurídica total do clube/SAD; (re)organização de um modelo de governação e organização do clube/SAD; mobilização total da cidade e dos seus sócios/adeptos à volta do clube; plano estratégico principal (viabilização – que não poderá envolver a mera vertente desportiva e que terá de ser bem mais amplo e ambicioso) e outro alternativo (refundição) para que os vitorianos e setubalenses, munidos da informação precisa, clara e credível, possam tomar de forma livre e consciente as melhores opções. Como tive oportunidade de dizer aos novos órgãos sociais do VFC, mesmo que se consiga implementar todos os passos acima referidos o sucesso não é garantido; contudo, basta falhar um daqueles passos para que o insucesso seja uma certeza.
BELENENSES FOI PELA CONTINUIDADE; NO VITÓRIA, HOUVE UMA RUTURA COM O PASSADO