O fim da letargia?
O clássico de sexta-feira vai deixar marcas. Afinal, retrospetivamente, a partida com o FC Porto pode marcar o fim de uma longa letargia da equipa do Benfica.
Não há, contudo, motivos para ficarmos satisfeitos com o empate. Depois destes 12 meses em que a equipa entrou numa espiral de apatia, importa mesmo recordar que o Benfica tem de estar sempre pressionado para vencer e que se há quem no clube não conviva bem com a pressão, é melhor mudar de ares. Devia ser óbvio: no Benfica só é permitido celebrar vitórias. Em todo e qualquer campo.
O melhor que o Benfica traz do Dragão não é, por isso, o empate, são os sinais evidentes de mudança. Na atitude e na dinâmica coletiva.
O descontentamento dos adeptos com a equipa tem-se justificado e assenta, no essencial, na forma amorfa como o Benfica vem a apresentar-se em campo – tímido nos duelos, pouco agressivo na disputa de bolas e com uma falta de dinâmica exasperante. O pináculo desta atitude foi na Supertaça com o FC Porto. Em vários momentos os jogadores aparentaram indiferença face ao desenrolar do jogo e resignação com o desfecho. Por isso mesmo, foi revigorante assistir, no Dragão, a uma equipa agressiva na reação à perda de bola (de acordo com o GoalPoint, o Benfica teve 16 ações defensivas no meio-campo adversário) e que demonstrou uma identidade competitiva renovada. Desta feita, Pizzi, por exemplo, para além de ter sido, como habitualmente, decisivo na manobra ofensiva, apresentou-se como um verdadeiro capitão, não se intimidando e liderando a equipa.
Mas o que fez mesmo diferença foi a dinâmica coletiva. Uma parte da explicação para esta mudança está na abordagem estratégica que Jorge Jesus adotou e que deixou Sérgio Conceição visivelmente irritado. No entanto, a consequência é bem mais profunda: dificilmente hoje alguém pode afirmar que o problema do futebol do Benfica reside na qualidade individual dos jogadores ou em fragilidades do plantel.
O Benfica não tem nenhum problema com a dupla de centrais (Otamendi e Verthonghen são jogadores de topo), do mesmo modo que Weigl pode não ser o ‘6’ que Jorge Jesus idealiza, mas é um ótimo médio, com grandes atributos posicionais e capacidade de preservar a bola. O problema coletivo do Benfica tem estado mais num défice de confiança (que agora pode ser invertido) e na dificuldade que o treinador tem tido em criar o contexto certo para o perfil de jogadores que formam o plantel.
Agora, com um treinador competente e jogadores de qualidade, este jogo – pese embora o resultado – pode ter sido o clique de que a equipa precisava. A Taça da Liga é, como tal, decisiva. Por se tratar de um troféu que tem de ser conquistado e, acima de tudo, porque é a oportunidade para confirmar, já, os sinais do Dragão.