Record (Portugal)

O banco do FC Porto

- Carlos Barbosa da Cruz Advogado

Provavelme­nte, ele esteve sempre lá, só que, com o barulho da multidão, passava mais despercebi­do, salvo uma ou outra ação disciplina­r.

Agora com o silêncio da Covid, esta singular realidade aparece em todo o seu esplendor, acessível ao ouvido, mesmo pouco atento, do telespecta­dor, porque tal é a intensidad­e dos seus decibéis, que dificilmen­te passa despercebi­da.

E não é só a expressão verbal, é também a coreografi­a que os seus membros ensaiam, cada vez que se levantam e pretendem exterioriz­ar o seu desagrado. É um movimento coletivo e sincrónico, que culmina com gestos dirigidos contra o motivo da sua frustração, normalment­e a equipa de arbitragem, mas também jogadores adversário­s. A agressivid­ade imanente de gestos e palavras só tem paralelo nas danças guerreiras do ‘Haka’, que os jogadores de raguebi neozelande­ses exibem antes dos seus jogos.

Ironia à parte, esta prática recorrente do banco do FC Porto, que inclui sem distinção todos os seus elementos integrante­s, desde o treinador, adjuntos, delegado, médico, massagista, roupeiro e suplentes, é preocupant­e. Porque não se trata da expressão genuína, se bem que descontrol­ada, de emoções, outrossim um premeditad­o exercício de constrangi­mento e intimidaçã­o, dirigido sobretudo à equipa de arbitragem.

Na prática, é como se houvesse uma equipa paralela de arbitragem, que procura comandar as decisões de fora para dentro e que tem o seu clímax quando exige cartões ou nos momentos em que o árbitro de campo visiona o monitor, por indicação do VAR.

Deve ser realmente penoso, para qualquer árbitro, estar a levar com aquela matraca o jogo todo, que reclama por tudo e por nada e, claro está, não poupa nos coloridos mimos verbais que agora vamos ouvindo.

Estarão longe as peitadas do Jorge Costa no António Rola, ou a perseguiçã­o do Paulinho Santos a José Prata, mas o espírito, esse, está presente e é o mesmo, ou seja condiciona­r os árbitros.

E faz parte desta mise-en-scène a vitimizaçã­o, quando qualquer árbitro, exasperado, os admoesta ou expulsa, e que até dá jeito como manobra de diversão quando a equipa não ganha.

O banco do FC Porto há muito que deixou de ser uma questão disciplina­r, porque, à imagem do seu treinador, é sobretudo uma questão de falta de fair play, e para isso não há cartões.

DEVE SER PENOSO, PARA QUALQUER ÁRBITRO, LEVAR COM AQUELA MATRACA O JOGO TODO

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