Record (Portugal)

O século do medo

O DESPORTO PODE AJUDAR A VENCER ESTE INIMIGO. O FUTEBOL TAMBÉM ESTÁ A ADAPTAR-SE E A TENTAR SOBREVIVER COMO TODOS NÓS. TENHAMOS ESPERANÇA, QUE É A MAIOR VACINA CONTRA O MEDO

- Rui Calafate Consultor de comunicaçã­o * Texto escrito com a antiga ortografia LEONOR PINHÃO

çSó passaram 20 anos mas este século está marcado pelo medo. Começou com o terrível ataque às Torres Gémeas, seguiu-se o combate ao terrorismo, depois veio a avassalado­ra crise financeira mundial e agora esta pandemia que mina de incerteza e receio os nossos dias. São tempos perigosos os que atravessam­os, onde os sistemas democrátic­os são postos em causa por um inimigo sem rosto, bem como por muitos oportunist­as que aproveitam a onda de instabilid­ade para se afirmarem como arquitecto­s de um caos que só os favorece, lavrando a sua mensagem num ódio contra as instituiçõ­es que aprendemos a respeitar.

Em Portugal gere-se a crise pandémica consoante a espuma das ondas, sem enxergar o amanhã. Batemos recordes de novos casos e óbitos sem soluções efectivas quando, por exemplo, na Grã-Bretanha já há estudos que demonstram que passados cinco meses muitos são os anteriorme­nte infectados que têm de voltar a recorrer a serviços de saúde. Devemos lutar contra o vírus, não podemos levantar o pé, temos de ter todas as cautelas, o negacionis­mo só é um bom aliado dos oportunist­as atrás citados.

Por natureza sou optimista, mas a idade e experiênci­a de vida ensinaram-me a ser pessimista e céptico quando não vejo uma solução com pés e cabeça ao fundo do túnel. No entanto, gosto de ouvir mensagens de esperança. Mesmo contra 80 por cento da sua população, o primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, reasseguro­u que os Jogos Olímpicos de Tóquio se irão realizar.

Disse: “Vamos continuar todos os preparativ­os, determinad­os em manter medidas que impeçam a disseminaç­ão da infecção e de forma a realizar um evento que seja capaz de devolver a esperança e a coragem ao Mundo”. Era fantástico que o maior evento desportivo se realizasse, mas tenho as minhas dúvidas.

Enquanto isso, o nosso futebol continua numa bolha. E também ele não escapa à incerteza das testagens e das maleitas provocadas pela Covid. Inacreditá­vel o caso vivido pelo Sporting com Nuno Mendes e Sporar, e fez muito bem Frederico Varandas em tomar posição e exigir explicaçõe­s para eliminar suspeitas. Temos agora uma final da Taça da Liga que junta as duas equipas que têm exibido melhor qualidade de jogo. Para trás ficaram o FC Porto, que não se dá bem com este troféu, e um Benfica que perde o seu terceiro objectivo da época, mesmo com a atenuante de ter actuado muito desfalcado.

HÁ QUE LUTAR CONTRA O VÍRUS. O NEGACIONIS­MO SÓ É UM BOM ALIADO DOS OPORTUNIST­AS

Como dizia o treinador do Braga, um dos finalistas, Carlos Carvalhal, “se parar o futebol, o vírus ganha por 10-0”. O técnico do Braga, que é um homem sorridente e optimista, toca num ponto importante. O desporto pode ajudar a vencer este inimigo, até no equilíbrio mental de quem está confinado. Entrámos numa espiral em que parecia que o Mundo se tinha de adaptar a nós, como se ouve num anúncio publicitár­io, quando somos nós que nos temos de adaptar ao Mundo. O futebol também está a adaptar-se e a tentar sobreviver como todos nós. Tenhamos esperança, que é a maior vacina contra o medo.

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