Ricardo Horta: a construção de um craque
ESTEVE NAS CAMADAS JOVENS DO BENFICA ENTRE 2004 E 2011, MAS FOI LITERALMENTE DESPACHADO DO CLUBE ENCARNADO AINDA COM IDADE DE JÚNIOR, TENDO CONCLUÍDO A FORMAÇÃO NO V. SETÚBAL. SUBIU A CORDA A PULSO
çO percurso de Ricardo Horta é um exemplo em que vale a pena determo-nos para perceber a irracionalidade da política de reforços dos grandes clubes. Andou pelas camadas jovens do Benfica, onde esteve entre 2004 e 2011, e foi literalmente despachado da formação encarnada ainda com idade de júnior.
Em boa hora, o Vitória de Setúbal acolheu o jogador na sua equipa de juniores, treinada então por Quim (declaração de interesses: com quem tenho uma relação familiar), onde fez duas excelentes épocas. Aí, ganhou força física e anímica, ganhou a confiança que viria a fazer dele o jogador que é hoje.
Nesses dois anos (2012 e 2013), o Vitória de Setúbal tinha excelentes equipas de juniores e Horta foi o aríete perfeito de uma equipa onde já estavam jovens promessas como Rúben Vezo, Frederico Venâncio, Alexandre Serafim, Hassan ou Pedro Mendes, entre outros. Alguns vingaram, outros não. Mas nessa época, em que o Vitória era já depenado por um conjunto de abutres que estavam na sua direção, a equipa de juniores conseguiu manter um elevado nível competitivo, qualificando-se sempre para as fases finais, soçobrando apenas perante os grandes, onde já estava claramente o Braga ou o Guimarães.
Ricardo Horta, quis o acaso, na verdade, que fosse bem acompanhado ao nível do treino e do seu enquadramento competitivo, mas já aí se via que o seu espírito trabalhador, guerreiro, disciplinado, e, sobretudo, uma enorme inteligência tática e técnica, iriam produzir um belíssimo jogador. Hoje, percebe-se bem que é um daqueles futebolistas que subiu a corda a pulso e que se construiu a si próprio. Não dependeu de nada nem de ninguém. Foi expulso da elite futebolística num momento decisivo em que se podia ter perdido, mas regressou pela porta grande.
Tudo isto, enquanto o Benfica – e também os outros grandes – montavam uma prospeção quase planetária para as camadas jovens que, apesar de alguns bons resultados aqui e acolá, banalizou o mercado negro das comissões nas transferências dos mais jovens, na valorização artificial de muitos que ficaram pobres ou mesmo na miséria, enquanto os seus agentes enchiam o bolso, da compra e venda de favores no famoso ‘scouting’. Abandonando, pelo caminho, muitos Ricardos Hortas que hoje enriqueceriam ainda mais a qualidade do futebol português.