Record (Portugal)

Guarda Abel podia ser administra­dor da Unilabs

SERIA MAIS INTERESSAN­TE SABER EM QUE TERMOS DECORREU A “CONSULTA AO MERCADO” DOS LABORATÓRI­OS DO QUE SABERMOS NOMES, PROFISSÕES E HOBBIES DOS ENCARREGAD­OS DE EDUCAÇÃO DOS ADMINISTRA­DORES DA UNILABS BEM COMO AS SUAS SIMPATIAS CLUBISTAS

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TEORIAS DA CONSPIRAÇíO À BOLEIA DE UMA PANDEMIA MUNDIAL? NÃO, NÃO SE ACEITA

Cabe ao FC Porto a distinção de ter dado o pontapé de saída do campeonato da suspeição-Covid no futebol profission­al. Por medo, ignorância e cansaço da população, uma pandemia terá sempre potencial de alimentar teorias da conspiraçã­o como, aliás, tem vindo a constatar-se. No nosso país, adicionar a futeboliza­ção do vírus ao caldo geral de insatisfaç­ão é próprio da mais desgraçada clubite e apanágio de uma irresponsa­bilidade sem limites. Que bem tramados estaremos no dia em que deixarmos de acreditar na ciência e nos laboratóri­os e no dia em que passarmos a acreditar que os resultados dos testes são convenient­emente apregoados para satisfação de clientelas e de clientelis­mos.

Não é que Portugal não seja um país de clientelas. É, de facto, e sempre foi. “Uma piolheira”, assim chamava a este retângulo o nosso penúltimo rei, o Senhor D. Carlos, que tinha temperamen­to artístico e era amante da ciência. O Francisco J. Marques, por exemplo, não parece ser amante da ciência. No início da semana, perante a possibilid­ade (aterradora) de Sporar e Nuno Mendes jogarem a meia-final da Taça da Liga, o diretor de comunicaçã­o do FC Porto recusou-se a acreditar na bondade dos resultados laboratori­ais ou na voz autorizada de médicos que até estudaram Medicina nas faculdades. E não ficou sozinho na demanda iluminista porque logo lhe veio fazer companhia um administra­dor da SAD do Sporting. O administra­dor André Bernardo, no rescaldo do caso Unilabs, aproveitou para, com bases científica­s muito suas e muito discutívei­s, fazer notar “o acaso” de se ter disputado “um FC Porto-Benfica” na mesma jornada em que Nuno Mendes e Sporar foram impedidos de jogar com o Rio Ave para o campeonato. Com franqueza… “o acaso”.

Teorias da conspiraçã­o com bola à boleia de uma pandemia mundial?

Não, não se aceita. Se a Liga de Proença jura que escolheu a Unilabs para “parceira oficial de Saúde da Liga de Clubes Profission­ais de Futebol” e que essa escolha “aconteceu depois de uma consulta ao mercado”, seria bem mais interessan­te conhecer-se em que termos específico­s decorreu essa “consulta ao mercado” do que sabermos, e como já sabemos de cor e salteado, os nomes, as profissões e os hobbies dos encarregad­os de educação dos administra­dores da Unilabs bem como as simpatias clubistas desses mesmos administra­dores e a frequência com que exprimem nas redes sociais os seus pontos de vista (científico­s) sobre o futebol português e as suas rivalidade­s.

Nada disto tem a menor importânci­a se acreditarm­os que não podemos deixar de nos fiar na ciência e nos resultados dos testes, independen­temente do laboratóri­o que os produz. Não é este o momento para testar clientelis­mos nem para fomentar teorias da conspiraçã­o. O guarda Abel bem podia ser administra­dor da Unilabs que era igual ao litro. O guarda Abel em sentido figurado, obviamente.

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AMANHÃ NÃO PERCA VÍTOR PINTO
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PAULO FUTRE

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