PAULO FUTRE
Apesar de o Benfica ter jogado pela primeira vez com aquela linha defensiva e não contar com vários jogadores devido a este maldito vírus, não pode haver desculpas por esse motivo, como disse o próprio Jorge Jesus. Na minha opinião, Ricardo, foi um bom jogo de futebol no qual até ao último minuto tudo podia acontecer. Mas o Sp. Braga do meu querido Carlos Carvalhal foi mais eficaz do que o Benfica e um justo vencedor. Temos de dar valor ao Carlinhos Carvalhal, meu companheiro de quarto nas Seleções inferiores de Portugal, porque meteu a sua equipa a praticar um grande futebol. Carlinhos, com os nossos 14 ou 15 anos sabes que tinha um grande orgulho em ti porque eras o único que eu me recorde que levavas os livros da escola para estágio. Nas horas livres tu estudavas e sempre te respeitei porque eu só jogava às cartas noutros quartos, para te deixar em paz com os teus estudos. Com aquela idade pensava que ias ser um grande defesa-central, mas também que te ias licenciar e serias um grande engenheiro, arquiteto ou médico. E hoje, 40 anos depois, digo com orgulho que o meu companheiro de quarto das Seleções inferiores de Portugal chegou ao patamar e nível de excelência como treinador profissional de futebol. Estou a escrever estas linhas às duas da madrugada de sábado e aconteça o que acontecer na final, muitos parabéns Carlinhos. Enorme amigo.
+ Como se explica a eliminação do Real Madrid da Taça do Rei, frente ao Alcoyano?
Em primeiro lugar tenho de responder como amante do futebol. Na Taça do Rei, até há dois anos, as equipas que estavam nas competições europeias disputavam as eliminatórias em duas mãos e, neste caso, se houvesse o jogo da segunda mão, os jogadores merengues não podiam facilitar em casa e era praçNão acha que Jovane Cabral está a ser mal aproveitado no Sporting?
Em finais de outubro ou início de novembro escrevi aqui: “Voltámos a ver um Jovane a fazer coisas de craque e a crescer como futebolista com a confiança total que lhe deu o Rúben e lhe tinha sido tirada pelo Keizer”. Pouco tempo depois, ticamente impossível o Real Madrid ser eliminado pelo Alcoyano. Mas as regras são iguais às de Portugal, e se as equipas grandes facilitam nos 90 minutos fora de casa podem ser eliminadas e humilhadas por equipas da segunda divisão B, como foi o Real Madrid agora ou o meu Atlético Madrid na eliminatória anterior e na época passada. Agora, Rui, quando fui para o Atlético Madrid em 1987, era o único português a jogar no estrangeiro, e a segunda equipa da maioria dos portugueses passou a ser o Atlético – e para os nossos compatriotas emiteve várias semanas parado por uma lesão e quando recuperou a equipa estava numa dinâmica ganhadora. Mas um jovem extremo como ele tem de estar sempre preparado para rebentar e ser protagonista na oportunidade seguinte. E o Jovane, na meia-final com o FC Porto, não facilitou: foi protagonista e colocou o Sporting na final com dois grandes golos. Se grantes em Espanha, como tu agora, o meu êxito para o seu dia a dia era muito mais do que um simples jogo de futebol, razão pela qual eram ainda mais colchoneros do que eu. Quando li a tua pergunta e vi que vivias em Madrid pensei que devias ser da geração do Cristiano Ronaldo ou do Figo, que jogaram no Real e seria muito normal que tu, como emigrante português, fosses mais merengue do que o Florentino Pérez. Se for assim, Rui, depois deste humilhante ‘Alcoyanazo’ já deves saber que a única coisa para acalmar a ansiedade, o stress e o siseste maldito vírus estivesse controlado, muitos clubes ganhariam confiança e começavam a investir. Só pelo que o Jovane fez depois da paragem era muito provável que o Sporting recebesse alguma proposta de 20 milhões de euros. Se o Jovane não tiver qualquer lesão importante até ao final da Liga, no mercado de verão vai valer muito mais do que agora. tema nervoso de todos os merengues é beber três vez por dia durante uma semana ‘Te de Tila’. E se estiver enganado e fores mesmo do Atlético Madrid, nós colchoneros nunca nos alegramos pelas derrotas do nosso eterno rival e até quarta-feira cada vez que falares com um teu amigo merengue demonstra o preocupado que estás com ele e pergunta-lhe se já bebeu o ‘Te de Tila’ da manhã, da tarde ou da noite.
+ O que tens a dizer da grande ‘caldeirada’ que houve no Roma-Spezia, onde o Paulo Fonseca fez seis (!) substituições?
Para os leitores de Record que passaram ao lado desta questão, esclareço: na terça-feira, nos oitavos-de-final da Taça de Itália, a Roma de Paulo Fonseca perdeu com o Spezia por 4-2, após prolongamento, e foi eliminada. Mas como diz o João, foi uma grande caldeirada porque mesmo que a Roma tivesse ganho o jogo, também tinha sido eliminada porque o técnico português fez seis substituições, mais uma do que as cinco permitidas. O Paulo Fonseca fez quatro no tempo regulamentar, duas no prolongamento e nem nos seus piores pesadelos pensou receber tantas críticas por uma substituição. Mas para mim o grande culpado deste erro escandaloso não é o treinador. Antes de aparecer a lei Bosman, como estrangeiro apanhei de tudo. Por exemplo, quando saí de Portugal, em 1987, só podiam jogar e estar inscritos dois estrangeiros por equipa nas grandes ligas. Mas na época 1995/96, já podiam estar sete inscritos. Podiam jogar três a titular e estar um no banco que só poderia entrar se eventualmente saísse um dos estrangeiros. Os meus seis companheiros naquela época no AC Milan eram Marco van Basten, Boban, Savicevic, Marcel Desailly, George Weah e um menino chamado Patrick Vieira. Que luxo. Mas digo porque houve vários treinadores naqueles anos que cometeram erros como o do Paulo Fonseca. Por exemplo, o Jorge Valdano quando era treinador no Valencia cometeu o mesmo erro substituindo um espanhol pelo estrangeiro que estava no banco e a equipa ficou a jogar com quatro estrangeiros. Depois deste erro foi destituído. Mas, na minha opinião, quem tinha de ser demitido em vez do Valdano seria o delegado do Valencia que estava ali para isso. Com o jogo, é normal que o treinador cometa um erro assim como foi o caso do Valdano com os estrangeiros e do Paulo Fonseca com as seis substituições. Mas quem nunca pode cometer este erro é o delegado da equipa porque é da sua máxima responsabilidade.
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