FEDERAÇÕES EM SITUAÇÃO COMPLICADA
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ç Portugal é um País de futebol mas existem dezenas de outras modalidades que estão a sofrer com a pandemia. E quando falamos de crianças e jovens, o desporto-rei tem a companhia de muitas outras atividades que servem de apoio a uma educação saudável e consciente. É o caso da natação, ténis de mesa, judo, andebol ou ginástica, algumas das modalidades com maior implantação no nosso país e que estão a complicar a vida de praticantes, pais e tutores.
“Os meus filhos, de 6 e 12 anos, tinham grande parte dos dias preenchidos, porque depois da escola tinham judo, natação e esgrima. Agora estão em casa a jogar consola de manhã à noite. E são eles os primeiros a pedir-me para sairmos de casa para correr ou simplesmente caminhar, mas como mãe não fico descansada em saber que os posso estar a prejudicar. Damos uns passeios de vez em quando mas sei que ambos já engordaram por falta de atividade física”, assegura Margarida Duque, que lamenta a ausência das rotinas na vida dos dois filhos e a incerteza relativamente ao que aí vem.
E como estão as federações a lidar com este momento inédito na nossa vida? Para António José Silva, líder da Federação Portuguesa de Natação (FPN), as dificuldades estão aí para serem enfrentadas: “Temos mais um motivo de preocupação crescente depois daquilo que se passou em 2020, com a redução da prática sistemática que tivemos e cujo reflexo foi a diminuição gritante do número de atletas filiados. A FPN tinha, no final de 2019, cerca de 120 mil filiados e acabámos 2020 com cerca de 21 mil, portanto houve um decréscimo de 100 mil filiados na natação. Isto, de certeza absoluta, é extensível à generalidade das modalidades e terá reflexos graves nos indicadores de prática no Instituto Português do Desporto e Juventude. É com muita apreensão que estamos a viver esta situação.” E António José Silva entende bem aquilo que esta pandemia está a fazer a pais e filhos, impedidos de gerir a vida da mesma forma que outrora: “A preocupação dos pais existe a vários níveis. Desde logo, devido à paragem da prática. Por outro lado, devido à preocupação com a manutenção das condições de prática. Aqui há posições antagónicas entre os que defendem que a atividade devia parar completamente e aqueles que reclamam que devia continuar com as necessárias medidas de segurança.”
Questionado sobre quando poderão os praticantes regressar às piscinas por esse País fora, o líder federativo foi direto: “Não sabemos. Nós estamos a aplicar aquilo que diz o Decreto-Lei. As competições reiniciaram para os atletas da 1.ª Divisão do polo aquático, os atletas das Seleções Nacionais enquadrados no alto rendimento estão a treinar, assim como os atletas de nível competitivo equivalente à 1.ª Divisão. Mas isso não significa que haja disponibilidade e instalações como existia antes da pandemia. Há muitas mais restrições e piscinas que encerraram e isso aumenta a nossa preocupação.”
Futuro complicado
No caso do judo, o responsável federativo Jorge Fernandes foi claro na análise do impacto nos mais jovens. “A pandemia tem sido uma grande adversidade na formação, de uma forma que nem daqui a dois/três anos recuperamos. São danos sem recuperação. Os clubes não podem funcionar, perderam receitas. É preocupante. Temos procurado ajudar as associações para que deixem de cobrar taxas aos clubes, treinadores e atletas. E que ajudem os clubes de acordo com as necessidades, assim como aos treinadores que estão há meses inativos”, observou.
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