A fuga de Zakia para fazer história
Se os recentes Jogos Olímpicos de Tóquio se realizaram ainda antes de os talibãs entrarem em Cabul, os Paralímpicos que hoje terminam só arrancaram depois. Chegou a ser noticiado que o Afeganistão já não participaria no evento – a bandeira do país desfilou na cerimónia de abertura transportada por um voluntário japonês –, mas Hossain Rasouli e Zakia Khudadadi acabaram por ser resgatados e estiveram em Tóquio. Zakia, de 22 anos, fez mesmo história, tornando-se a primeira mulher afegã a participar na competição, no taekwondo, inspirada por Rohullah Nikpai, o único medalhado olímpico afegão – chegou ao bronze nos Jogos de 2008 e 2012, precisamente no taekwondo. Zakia e Hosain, que participou no salto em comprimento, só conseguiram estar em Tóquio após um apelo desesperado a 17 de agosto, data em que deveriam ter viajado para o Japão. Depois isso, na sequência de um enorme esforço internacional, acabaram por ser colocados na lista prioritária de evacuação da embaixada espanhola e seguiram num avião australiano para Paris, chegando ao Japão mais de uma semana depois do previsto. Agora, ainda não se sabe o que ambos irão fazer, mas a Austrália já lhes garantiu vistos humanitários para seguirem para o país se for essa a sua vontade.
Futuro que “não parece bom”
De qualquer forma, aquilo que os esperaria no Afeganistão já pouco terá a ver com o passado recente, com admitiu Arian Sadiqi, o chefe da missão paralímpica afegã em Tóquio, depois de lembrar a evolução dos últimos anos. “Houve enormes progressos, tanto nos olímpicos como nos paralímpicos. A nível nacional tínhamos muitos atletas”, referiu, muito pessimista quanto ao futuro: “Apenas podemos fazer previsões com base no que aconteceu no passado. E o que aconteceu na anterior era talibã foi... as pessoas não podiam participar ou competir, especialmente as mulheres. Ainda é tudo muito imprevisível. Mas acho que vão acontecer coisas semelhantes, particularmente com as mulheres, com os grupos minoritários. Não posso ter a certeza sobre como vai ser, mas o futuro não parece bom.”
AUSÊNCIA NOS PARALÍMPICOS CHEGOU A SER ANUNCIADA, MAS APELO DRAMÁTICO ACABOU POR LEVAR DUPLA AFEGÃ ATÉ TÓQUIO