Record (Portugal)

“TODOS OS DIAS PENSO QUE TENHO UMA NOVA CHANCE”

Uma miocardite fê-lo parar durante meses, mas não o derrotou. A fase “mais difícil da carreira” foi, ao mesmo tempo, a que mais lições lhe deu. Agora, o avançado diz-se com força renovada para se superar e mostrar o que vale

- PEDRO MORAIS

Como surgiu a oportunida­de de reforçar o Tondela?

DANIEL DOS ANJOS – Foi um assunto tratado pelos meus empresário­s. Eu estava de quarentena, tinha regressado a Portugal, e disseram-me que havia o interesse do Tondela. Sendo um bom clube e de 1ª Liga, disse que também estava interessad­o. Acabou por dar certo.

Que balanço faz a estes primeiros meses?

DDA – É um balanço positivo. Estou muito feliz. Fui bem recebido. Estou muito focado nos meus objetivos e em ajudar este clube e este grupo vencedor.

Fez a escolha certa?

DDA – Sim, de certeza. Foi a escolha correta. Agora só tenho de crescer e vencer.

Esta oportunida­de ao mais alto nível peca por tardia?

DDA – As oportunida­des surgem no momento certo. Tive alguns

“TIVE RECEIO DA MIOCARDITE. TIVE VÁRIOS PENSAMENTO­S ALEATÓRIOS SOBRE A MINHA VIDA, A MINHA CARREIRA...”

imprevisto­s, mantive a cabeça no sítio, sabendo que ia chegar. Agora tenho de trabalhar para dar resposta todos os dias.

O Tondela surge meses depois de ser obrigado a parar, devido à miocardite. Fica grato ao clube por ter-lhe dado a mão?

DDA – Não tenho como esquecer e tenho de ter gratidão. Não é fácil apostar num jogador que teve problemas de coração. Há sempre algum receio. O Tondela confiou em mim, agora tenho de retribuir.

Puxando a fita atrás, como reagiu à notícia da miocardite e ao facto de ter de parar?

DDA – Hoje estou mais tranquilo para falar disso. Na altura foi muito difícil, porque não entendia o que tinha acontecido. Aquele vírus transformo­u-se numa inflamação das paredes do coração. Fiquei assustado. Nas primeiras semanas foi difícil, tive pensamento­s aleatórios da minha vida, da carreira, de tudo. Foi importante ter o apoio da família, do Benfica, da psicóloga que me acompanhou. Mas tive de meter a cabeça no sítio, ter paciência e lutar para vencer. E venci, felizmente.

Foi o momento mais difícil?

DDA – Sim. Tive uma lesão do ligamento cruzado, mas dessa sabia que podia voltar. A miocardite é no coração, é mais delicada. Fica-se com um pé atrás. Foi a pior fase da minha carreira.

Temeu, portanto, não voltar?

DDA – Tive medo, não sabia o que tinha. Não sabia se podia voltar, durante vários dias pensei que não iria conseguir. Foi uma confusão danada na minha cabeça. Não foi fácil.

O que o segurou?

DDA – A fé, o estar positivo, o fazer o que o médico me dizia, a minha família... Foi importante ter um pilar. Tive de ser positivo e ter fé.

Retirou alguma lição?

DDA – Sim. Agora todos os dias levanto-me e penso que tenho outra oportunida­de para ir treinar. Durante três ou quatro meses não o pude fazer. Agora acordo e digo a mim mesmo que é uma nova chance, mais um dia de trabalho, e venho com tudo, mesmo estando cansado. Venho sempre animado.

Podemos falar de um Daniel dos Anjos com força renovada?

DDA – Completame­nte. Todas as dificuldad­es por que passamos permitem-nos tirar lições. Eu tirei várias positivas. Agora tenho de aproveitar esta oportunida­de e ser grato por tudo. Tenho de aproveitar ao máximo, dar o máximo e ser feliz.

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DANIEL DOS ANJOS

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