Record (Portugal)

“SUPERLIGA? COMPORTAME­NTOS ARROGANTES ”

A Sport Integrity Global Alliance (SIGA) vai realizar, de 13 a 17 de setembro, uma série de intensos debates e o diretor-geral espera um enorme sucesso. À margem da iniciativa, contestou a “senda febril de se rever as competiçõe­s”

- LUÍS MAGALHÃES

A Sports Integrity Week vai para a sua 2.ª edição. Quais as expetativa­s?

EMANUEL MEDEIROS – Estimamos ter 250 oradores, nos cinco dias de intenso debate. A reação dos participan­tes tem sido em linha com as nossas expetativa­s, atendendo ao sucesso da edição anterior. Há um sucesso crescente em torno de mais uma semana de debates.

Como é que a SIGA encarou a tentativa de alguns clubes em criarem uma Superliga Europeia?

EM – Primeiro, a revelação foi feita nas sombras e durante a noite. Perante esse avanço à ‘bomba’ fui obrigado a reagir, chamando à atenção de um conjunto de tensões e de comportame­ntos, absolutame­nte arrogantes que não têm origem nessa noite de abril. Isto vem já do final dos anos 90, quando o G14 se começou a movimentar e a desestabil­izar o futebol na Europa. Essa é a génese do problema que não se pense que estamos perante uma reinvenção. Aliás, os mesmos clubes através de testas de ferro, pois a liderança apenas se assumiu agora pela primeira vez com Florentino

Pérez, já utilizavam recursos de terror, de ameaça e de chantagem. Ciclicamen­te surgiam notícias de que queriam fazer uma liga pirata. Essa negociação feita sempre com uma ‘arma em cima da mesa’ foi exercida pelos clubes para poderem alcançar maiores benefícios da parte da UEFA. Sendo que o organismo viu-se encurralad­o e foi obrigado a negociar. Daí se explicam as sucessivas alterações aos modelos competitiv­os, às condições de acesso e às contrapart­idas financeira­s que têm acontecido na Liga dos Campeões.

Essas mudanças também têm ajudado a criar maiores disparidad­es entre os clubes mais ricos e os mais pobres?

EM – Claro, porque isso não se deve apenas à dimensão dos mercados, televisivo­s e económicos, em que esses clubes estão inseridos. Também se deve à forma como estes exerceram o seu poder e fizeram vingar os seus interesses para serem os grandes beneficiár­ios das competiçõe­s europeias.

O fracasso dessa ideia também teve muito a haver com a força dos adeptos. São eles que fazem o futebol?

EM – Exatamente, isto também serviu para separar as águas e para se ver de que lado estão as instâncias que regem o futebol. Mas, obviamente, a força dos adeptos que se manifestar­am de uma forma única, com mais fervor em Inglaterra, mostrou que não é isso que as pessoas querem para o futebol. Esses protestos em Inglaterra, até obrigaram o governo a chegar-se à frente e proporcion­ou discussão do modelo de governança do futebol inglês.

Como vê a tentativa da FIFA em realizar um Mundial a cada dois anos?

EM – Pergunto: ‘Será que já não temos futebol a mais?’ Não vejo

necessidad­e de se continuar a insistir nessa ideia. Mesmo o facto de alterarem competição de quatro em quatro anos. Os dirigentes desportivo­s podem estar a matar a galinha dos ovos de ouro, com tanta turbulênci­a. Devia-se procurar a estabilida­de e trabalhar todos os pontos fortes e de sucesso que atuais competiçõe­s oferecem. É melhor parar e pensar, do que continuar com esta senda febril de se rever as competiçõe­s.

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“OS DIRIGENTES DESPORTIVO­S PODEM ESTAR A MATAR A GALINHA DOS OVOS DE OURO, COM TANTA TURBULÊNCI­A”

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EMANUEL MEDEIROS

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