Record (Portugal)

As piores e as melhores razões

TIVESSEM SIDO DIFERENTES OS RESULTADOS DA EQUIPA DE FUTEBOL NO MÊS DE AGOSTO E O PANORAMA NÃO SE APRESENTAR­IA ASSIM, TÃO DE FEIÇÃO, AOS PROPÓSITOS DE RUI COSTA E DA CANDIDATUR­A QUE VAI ENCABEÇAR. SOZINHO OU COM CONCORRÊNC­IA, É ESTA A QUESTÃO

- Leonor Pinhão

çA desistênci­a de João Noronha Lopes da corrida eleitoral no Benfica não é uma boa notícia para Rui Costa nem para o Benfica. Pior ainda, para todos, é a perspetiva de Rui Costa concorrer sozinho a 9 de outubro legitimand­o-se, por fim, como presidente do Benfica sem passar pelo crivo da confrontaç­ão das ideias e do debate com os seus opositores. As próximas eleições no maior clube português querem-se concorrida­s, livres de condiciona­lismos e de restrições democrátic­as em função das circunstân­cias institucio­nais em que vão ocorrer e que se resumem à crise provocada pela demissão de Luís Filipe Vieira, o presidente de quase duas décadas forçado a uma saída de cena por um processo judicial aparatoso e longe do fim.

Sem concorrent­es com quem se confrontar, Rui Costa vai a votos não só sozinho, mas também mal-acompanhad­o. No sentido em que o sufrágio será, inevitavel­mente, dominado pelo peso da figura histórica de Vieira e pela gestão de Vieira pairando, sempre paternalme­nte, sobre o cami- nho e sobre as propostas que Rui Costa entender apontar aos associados do Benfica para se fazer eleger. Que Rui

Costa vai ser o próximo presi- dente do Benfica ninguém duvida. Concorra numa lista única ou numas eleições com outros candidatos, Rui Costa parte muito à frente e não é por ser um antigo jogador,

O SUFRÁGIO SERÁ DOMINADO PELO PESO DA FIGURA HISTÓRICA DE VIEIRA

nem por se ter portado exem- plarmente na crise do verão de 1993, nem por ter regressado ao Benfica assinando um contrato em branco, nem pelo seu trabalho como dirigente do clube.

A atual vantagem de Rui Costa, como o próprio saberá, é a consequênc­ia dos bons resultados da equipa profission­al de futebol do clube durante o mês de agosto que chegou ao fim com o Benfica na liderança do campeonato e com a qualificaç­ão garantida no que diz respeito à Liga dos Campeões. Tivessem sido outros os resultados e o panorama não se apresentar­ia assim, tão de feição, aos propósitos de Rui Costa e da candidatur­a que vai encabeçar. Acontece que, sem opositores a 9 de outubro, o sucessor designado pelo ex-presidente – e por essa mesma razão e outras mais do mesmo género – vai levar a votos o projeto de um Vieira ausente. E terá do seu lado todos os que veem nele a evolução na continuida­de que garante o status quo do regime e terá contra si, com ou sem opção de voto, todos os que veem nele exatamente a mesma coisa: a continuida­de, a manutenção do regime, o “vieirismo” sem Vieira.

É neste estado que está o Benfica pré-eleitoral de Rui Costa, um clube profundame­nte dividido pelos acontecime­ntos que são públicos, tristes e embaraçant­es. Se o Benfica não vencer esta tarde nos Açores e lhe correr mal a viagem a Kiev na próxima terça-feira é bem provável que apareça um ou mais candidatos para discutir com Rui Costa a 9 de outubro. Mas essa é a pior razão para motivar uma concorrênc­ia eleitoral. Ou não é?

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