Azeda jornada de Champions
ENQUANTO EM ALVALADE ESTIVER RÚBEN AMORIM, OS LEÕES DORMEM DESCANSADOS, APESAR DA AZIA PROVOCADA PELO VINAGRE DE MÁ QUALIDADE
Na Liga dos Campeões os clubes portugueses têm o seu Eldorado de receitas, conjuntamente com a venda de passes de jogadores, mas para atingir a glória desportiva esqueçam tal utopia. Devaneios, fantasias, quimeras, alimentam a alma dos homens, porém, como dizia Balzac, “a ilusão é uma fé desmedida” e é pouco frio e realista alimentar-nos só de fé. No lago dos tubarões os nossos emblemas são meros peixinhos de aquário de orçamento reduzido e apenas o FC Porto ao longo dos anos tem semeado uma marca de competitividade. E esta primeira jornada da liga milionária expôs claramente a curta realida- de lusa. Soube a muito pouco e teve um travo azedo com excesso de vinagre e pouco azeite. E já sabem os caros leitores que
NO LAGO DOS TUBARÕES EUROPEUS, OS NOSSOS EMBLEMAS SÃO MEROS PEIXINHOS DE AQUÁRIO
quando os temperos estão desequilibrados o repasto não fica para boa memória.
A matemática diz que o Benfica recolheu um ponto em Kiev.
Mas podia ter sido mais ou até menos o que seria injus- to. Neste grupo, na Luz, ainda se pode sonhar pois o Barcelona está uma triste amostra do potentado de outrora e Jorge Jesus, tenho a certeza disso, para lá da conquista do campeonato, ambiciona brilhar num patamar onde a sua quali- dade já devia estar há muito tempo. E este plantel tem abundância de opções.
Os dragões provaram mais uma vez que se sentem bem
nos grandes palcos, aqueles em que Sérgio Conceição mostra toda a sua trajectória de vida de quem veio de baixo, de meios humildes, e que chega ao topo e batalha até à exaustão para não sair daquele lugar que custou tanto a conquistar - e a sua alma de campeão que dá a vitamina competitiva a um plantel que tem diversas lacunas. Não ganhou por culpa da mão de Taremi, contudo, evidenciou maturidade.
Em Alvalade não sabemos se a goleada sofrida
irá abalar a couraça de confiança dos homens de Rúben Amorim. Há um ano, o desmoronamento europeu provocado pelos austríacos do Lask Linz foi, afinal, um bom augúrio. A diferença é que este grupo tem mais cinco jogos e pelo menos o desgaste que o Sporting não teve na época passada será agora sentido. O nervosismo frente ao Ajax foi evidente. Foram nove os jogadores que se estrearam na Champions, logo, a imaturidade era natural. Cabe também ao Sporting tornar uma rotina a presença nesta competição e para isso será importante que não ganhe um título de 20 em 20 anos, tem de ser normal para a maior potência desportiva nacional estar no topo do mundo no futebol. No entanto, guardo algo de positivo, a humildade e sapiência do líder no relacionamento com o grupo de trabalho - o título não o deslumbrou e mantém a lúcidez - ao dizer: “temos sempre de aprender, sobretudo o treinador”. Enquanto ali estiver Rúben Amorim os leões dormem descansados, apesar da azia provocada pelo Vinagre de má qualidade.