Record (Portugal)

O fim da solidão de Rafa

A ÉPOCA PASSADA, O VELOZ EXTREMO ENCARNADO ERA UMA VOZ SOLITÁRIA NUMA ORQUESTRA DESAFINADA. FALTAVAM-LHE ACOMPANHAN­TES. ESTA TEMPORADA TUDO MUDOU E A VÍTIMA MAIS EXPRESSIVA, ATÉ AGORA, FOI O GRANDE BARCELONA

- Eduardo Dâmaso Diretor da revista Sábado

No ano passado, Rafa era uma voz solitária numa orquestra desafinada. A sua indiscutív­el classe não tinha grandes acompanhan­tes, numa equipa sem alma e sem liderança. A incapacida­de de Darwin em encaixar no futebol de Rafa era o impiedoso retrato de um Benfica inofensivo. Nesta época, tudo mudou e a vítima mais expressiva, até agora, foi o grande Barcelona.

Não vale a pena fazer um rodriguinh­o de rivalidade clubística

e lembrar que este Barça sem Messi é outra coisa, como se os catalães fossem um Alguidares de Baixo mais lustroso. O Barcelona já não é nem mais do que um clube, na cartilha independen­tista da nação catalã, nem mais ou menos uma imobiliári­a, como era definido em alguns círculos catalães na era de Josep Luís Nunez, o presidente que criou uma implacável dinâmica de negócio ao clube.

A loucura inflacioni­sta, como já aqui escrevi,

desatada com a renovação do contrato de Messi, conduziu o clube à crise actual. Mas, para todos os efeitos, em particular os de recorte futebolíst­ico, o Barça ainda é uma potência na arte de jogar à bola. Não vale a pena ir por aí para di- minuir um facto incontorná­vel: a vitória contundent­e de 3-0 conseguida pela equipa de Jorge Jesus é um feito notável, que abre as escotilhas de saída das profundeza­s de um certo miserabili­smo competitiv­o, marca inegável do futebol português na Champions, para um patamar superior que abre ao Benfi- ca grandes perspectiv­as despor- tivas e financeira­s para esta época. E Rafa é o maior artífice da qualidade futebolíst­ica dos encarnados, hoje muito mais acompanhad­o, em termos globais, por uma equipa mais sólida, com mais potência finalizado­ra e mais solidez defensiva. Rafa já não é um génio solitário a vaguear por um relvado onde a bola era mal tratada, sem perí- cia e sem coerência táctica.

Assim saiba Rui Costa acompanhar a genialidad­e do pequeno Rafa

na complexa arte da gestão de activos evanescen- tes, como são todos os que dependem do talento e da fortuna, com particular expressão no futebol. Ganhar no campo e no terreno do fraco dirigismo clubístico, onde se afirma “o primeiro e mais persistent­e problema” do futebol português, como ontem acertadame­nte escreveu aqui Octávio Ribeiro, seria ouro sobre vermelho para um Benfica a inaugurar uma nova e venturosa era na sua história.

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