Record (Portugal)

A ESPERANÇA NO PRESIDENTE RUI COSTA

-

çQue memórias guardam dos primeiros tempos na Seleção principal?

JC – Eu vou ser muito sincero e frontal, como sempre sou. Cheguei à Seleção em 1992, apanhando um grupo de jogadores que, tal como eu, estávamos a dar os primeiros passos a esse nível e outros que vinham de trás. O ambiente não era o melhor – havia uma divisão clara entre os jogadores do FC Porto e do Benfica, base de um grupo estranho. O que se seguiu afastou essa realidade, porque ao peso dos clubes sucedeu-se, na esmagadora maioria, um grupo de gente que se conhecia desde a adolescênc­ia, com grandes vivências comuns, grandes alegrias, felizmente pouquíssim­as tristezas…

Passámos anos e anos mais tempo juntos do que propriamen­te com os nossos pais – o João Pinto foi exceção, porque casou e teve filhos muito cedo.

T – Eu não dissocio a chegada à Seleção do início da minha carreira no Benfica. O meio-campo do Benfica era composto por Jaime Graça e Coluna, a dupla do Mundial de 1966. Sem substituiç­ões, digam-me lá como podiam jogar outros médios, com dois monstros daqueles no plantel? Isso explica as minhas 22 presenças em 26 jornadas do campeonato. Isto é, a nova regra permitiu-me entrar muitas vezes saindo do banco. E foi assim que tudo começou, na tal fase de transição entre uma equipa que vinha de cinco finais da Taça dos Campeões na década de 60 (duas ganhas) e jovens jogadores que estavam à espreita de um lugar ao sol. O resto surgiu naturalmen­te.

Como analisam a chegada de Rui Costa a presidente do Benfica?

JC – Tenho esperança que o futebol português reflita mudança de mentalidad­es, agora que o Rui Costa, meu amigo pessoal, com quem dividia o quarto nas seleções, chega a presidente do Benfica. Mas posso falar de outros amigos como João Pinto, grande referência do Benfica e também do Sporting, Nuno Gomes, Pedro Barbosa, entre outros, como figuras capazes de trazerem algo de novo. De uma vez por todas devemos pensar em conjunto. Acho muito bem que cada um defenda o seu clube, dentro de uma rivalidade normal – estou satisfeito aqui ao lado de uma das maiores figuras da história do grande rival do FC Porto. Temos de respeitar-nos e devemos, tanto quanto possível, estimular a amizade entre nós. Esta é a linha que nos deve orientar, porque temos de ajudar-nos se for cado disso, em prol de um futebol melhor, mais competitiv­o, mantendo as lutas internas. Sim, eu quero que o FC Porto ganhe sempre, que o Toni quer ver o Benfica eternament­e vitorioso mas é quase ridículo, por exemplo, que o Toni não queira que o FC Porto e o Sporting tenham sucesso europeu, ou que eu deseje derrotas de Benfica e Sporting em termos internacio­nais.

T – Partilho inteiramen­te. A ascensão de futebolist­as a presidente­s não é novidade a nível de outros clubes. O Fernando Oliveira, por exemplo, liderou os destinos do V. Setúbal, depois de uma boa carreira como futebolist­a. Mas a recuperaçã­o da ideia, agora num clube como o Benfica, pode romper com aquilo que está instituído e aportar coisas novas ao futebol português. Quem dirige os maiores clubes tem grandes responsabi­lidades na projeção do futebol para outros patamares, porque o negócio do futebol obriga a entendimen­tos e a saber o que está em causa. A ascensão do Rui Costa a presidente pode constituir o início de uma nova página no Benfica suscetível de influencia­r o futebol nacional. Não por ser moda, mas porque estes são os novos tempos que o futebol está a pedir.

*

“A ASCENSÃO DO RUI PODE CONSTITUIR O INÍCIO DE UMA NOVA PÁGINA SUSCETÍVEL DE INFLUENCIA­R O FUTEBOL” TONI

“ESTOU CONFIANTE DE QUE O RUI, MEU AMIGO, COM QUEM DIVIDIA O QUARTO NAS SELEÇÕES, VAI CONTRIBUIR PARA A MUDANÇA” JORGE COSTA

“O NEGÓCIO OBRIGA A ENTENDIMEN­TOS E A SABER O QUE ESTÁ EM CAUSA. FUTEBOL ESTÁ A PEDIR NOVOS TEMPOS” TONI

“CHEGUEI À SELEÇÃO EM 1992. HAVIA UMA DIVISÃO CLARA ENTRE JOGADORES DE FC PORTO E BENFICA. ERA MUITO ESTRANHO” JORGE COSTA

 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal