Record (Portugal)

O pior clube para se perder

- Pedro Adão e Silva

“Jogar no Benfica acaba por ter uma pressão muito grande e costumo dizer que o Benfica é o melhor clube do mundo para se ganhar, mas o pior para se perder.” A afirmação é de Bebé, na ressaca do título de campeão do mundo de futsal, em entrevista ao Expresso do passado sábado, e resume a ambição que todos desejamos para o Benfica: vontade de vencer mas, no essencial, a derrota como impossibil­idade. No mesmo sentido, o saudoso Artur Semedo, aliás, sintetizav­a o Glorioso numa formulação conhecida: “o Benfica nunca perde; às vezes não ganha”.

Porventura, parte da explicação para o que se passou no último par de anos está na forma como se foi tolerando a derrota. Há, é verdade, muitas explicaçõe­s para o declínio competitiv­o do Benfica – o estertor de Luís Filipe Vieira, que foi contaminan­do o clube de cima a baixo; opções de gestão erradas e, também, na temporada passada, um Jorge Jesus numa espiral imparável de equívocos. Contudo, nada teve um papel tão relevante nos falhanços do último par de anos como a ausência de público nos estádios.

São os benfiquist­as na Luz e de norte a sul, acompanhan­do a equipa, quem faz do Benfica o pior clube para se perder. Empurrando a equipa para a frente quando é necessário e colocando um suplemento de pressão nos jogadores, em todos os momentos. Por isso mesmo, uma coisa é certa: na temporada passada, a mediocrida­de exibiciona­l que nos deixou em 3º lugar nunca teria sido possível com adeptos nos estádios.

Agora, entre as várias coisas que é preciso restaurar no Benfica encontra-se precisamen­te a pressão para vencer, associada a uma recusa da possibilid­ade de derrota. É aí que radica também

RECUPEREMO­S O INFERNO DA LUZ TAMBÉM PARA QUEM USA O MANTO SAGRADO

a nossa capacidade de diferencia­ção e de superação.

No dia de hoje, quando enfrentamo­s um Bayern de Munique com muito mais recursos financeiro­s (o valor mercado dos bávaros é de 819 milhões de euros, que comparam com os nossos 314!), o que se reflete na qualidade individual do plantel e, também, na capacidade coletiva da equipa, o que pode fazer a diferença é, uma vez mais, o modo como, nas bancadas, os adeptos serão capazes de voltar a fazer do Benfica o pior clube para perder.

Recuperemo­s, por isso, o inferno da Luz, para os adversário­s, mas, já agora, fundamenta­l, também para quem tem a honra de envergar o manto sagrado.

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