Rafael Alexandre
Mão amiga fez-me chegar cópia do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa que, ao não validar as nulidades invocadas, confirmou o veredito do Tribunal Arbitral do Desporto, que julgou o diferendo entre o Sporting e o seu ex-jogador Rafael Leão e condenou este a pagar 16,5 milhões de euros ao seu antigo clube.
A leitura do aresto é deveras interessante,
não só pela prova produzida relativamente a períodos conturbados do Sporting como, e sobretudo, por dele se constatar a que ponto a ganância e a cupidez toldam o discernimento mais elementar.
A estória é simples de contar. Não obstante
ter sido poupado às agressões de Alcochete, no dizer do próprio, por nelas ter participado um antigo condiscípulo seu que o aconselhou a estar quieto, Rafael rescindiu unilateralmente o seu contrato de trabalho com o Sporting alegando falta de condições para o normal desempenho da sua atividade. Até aqui, nada de especial, outros também o fizeram, com a agravante de terem sido violentamente molestados.
Subsequentemente, Rafael foi posto na vitrine
e o Lille, afoitamente, chegou-se à frente, tendo assinado contrato, sem que o mesmo tenha sido registado, por força das limitações daquele clube, no que toca ao fair-play financeiro.
Foi então que se reataram os contactos
de Rafael com gente do Sporting, a ponto de este, aquando da vinda a Lisboa para um jogo da seleção, se ter disponibilizado a assinar um novo contrato. Segundo os factos provados no acórdão, quando Rafael estava numa moradia no Restelo, a assinar um contrato com Sousa Cintra, ao tempo presidente da SAD, o pai de Rafael, de forma quase rocambolesca, introduziu-se na mesma e proibiu o filho de assinar, com peixeirada à mistura.
Perguntar-se-á por que carga de água o pai Leão
interferiu desta forma na vontade do filho, já maior. Se calhar, o facto, provado nos autos, de o senhor ir receber 325.000 euros de prémio, com a assinatura pelo Lille, ajudará a compreender. O pai Leão não terá querido ver para além do seu ganho imediato e ignorou que, face à disponibilidade que, livremente, o filho mostrara de assinar de novo pelo Sporting, os argumentos que serviram de base à rescisão do contrato morriam ali.
Como corolário de tamanha asneirada, o pobre
Rafael terá de penar anos para pagar a sua dívida, ou na melhor das hipóteses, ganha a ação que corre no TAS e paga o Lille. De uma forma ou outra, a lição desta quase fábula é lapidar: desconfia de quem se diz teu amigo, quando o teu amigo tem a ganhar com o que diz.