Record (Portugal)

Rafael Alexandre

- Carlos Barbosa da Cruz

Mão amiga fez-me chegar cópia do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa que, ao não validar as nulidades invocadas, confirmou o veredito do Tribunal Arbitral do Desporto, que julgou o diferendo entre o Sporting e o seu ex-jogador Rafael Leão e condenou este a pagar 16,5 milhões de euros ao seu antigo clube.

A leitura do aresto é deveras interessan­te,

não só pela prova produzida relativame­nte a períodos conturbado­s do Sporting como, e sobretudo, por dele se constatar a que ponto a ganância e a cupidez toldam o discernime­nto mais elementar.

A estória é simples de contar. Não obstante

ter sido poupado às agressões de Alcochete, no dizer do próprio, por nelas ter participad­o um antigo condiscípu­lo seu que o aconselhou a estar quieto, Rafael rescindiu unilateral­mente o seu contrato de trabalho com o Sporting alegando falta de condições para o normal desempenho da sua atividade. Até aqui, nada de especial, outros também o fizeram, com a agravante de terem sido violentame­nte molestados.

Subsequent­emente, Rafael foi posto na vitrine

e o Lille, afoitament­e, chegou-se à frente, tendo assinado contrato, sem que o mesmo tenha sido registado, por força das limitações daquele clube, no que toca ao fair-play financeiro.

Foi então que se reataram os contactos

de Rafael com gente do Sporting, a ponto de este, aquando da vinda a Lisboa para um jogo da seleção, se ter disponibil­izado a assinar um novo contrato. Segundo os factos provados no acórdão, quando Rafael estava numa moradia no Restelo, a assinar um contrato com Sousa Cintra, ao tempo presidente da SAD, o pai de Rafael, de forma quase rocamboles­ca, introduziu-se na mesma e proibiu o filho de assinar, com peixeirada à mistura.

Perguntar-se-á por que carga de água o pai Leão

interferiu desta forma na vontade do filho, já maior. Se calhar, o facto, provado nos autos, de o senhor ir receber 325.000 euros de prémio, com a assinatura pelo Lille, ajudará a compreende­r. O pai Leão não terá querido ver para além do seu ganho imediato e ignorou que, face à disponibil­idade que, livremente, o filho mostrara de assinar de novo pelo Sporting, os argumentos que serviram de base à rescisão do contrato morriam ali.

Como corolário de tamanha asneirada, o pobre

Rafael terá de penar anos para pagar a sua dívida, ou na melhor das hipóteses, ganha a ação que corre no TAS e paga o Lille. De uma forma ou outra, a lição desta quase fábula é lapidar: desconfia de quem se diz teu amigo, quando o teu amigo tem a ganhar com o que diz.

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