O driblador que seduz Rúben
O VIMARANENSE É UM SEDUTOR, QUE DOMINA A NOBRE ARTE DE FAZER ‘BLUFF’ COM TODO O CORPO
MARCUS EDWARDS DOMINA A MATÉRIA-PRIMA DA FINTA COMO SE TIVESSE NASCIDO COM OS ELEMENTOS IMPRESCINDÍVEIS DE DOMÍNIO, ARRANQUE, TRAVAGEM, ACELERAÇÃO E SAÍDA PARA ONDE O INSTINTO INDICA. QUANDO TUDO SAI BEM É UM DEMÓNIO À SOLTA
É um talento superior, com características bem definidas: driblador que insinua, engana e mente da cabeça aos pés; para quem ele, a bola, os adversários, o tempo e o espaço fazem parte de um mesmo quadro, aquele que há de pintar vezes sem conta, todos diferentes e que fazem as delícias de plateias que adoram os milagres que enriquecem o guião. Marcus Edwards, inglês com sangue latino a correr-lhe nas veias, é um jogador constantemente visitado pela inspiração e não precisa de fazer barulho para acordar as musas – nem sequer de alertar os companheiros para a sua existência, porque esses contam sempre com ele, nomeadamente nos momentos de maior aperto.
Sendo rápido, revela uma das armas dos grandes talentos: nunca tem pressa. Confia nele próprio até à insolência, no talento que possui e no efeito dos seus dotes mágicos. Está permanentemente à frente dos acontecimentos e, antes mesmo de entrar em ação, tem soluções para tudo: antes de a bola lhe chegar aos pés já está posicionado para dominá-la; quando a toca já decidiu o que vai fazer; o que executa não é a pensar no instante a seguir mas no que vai acontecer quatro ou cinco toques à frente. Discutir as suas decisões é uma perda de tempo, porque, por mais estranha que a opção nos pareça, nunca se engana – no drible, no passe, na progressão solitária, no apelo à participação dos outros, na ação mais ou menos vertical…
Uma das vantagens relativamente a muitos dribladores
é exceder em larga escala a força da falsidade que orienta o seu padrão criativo. Há momentos em que pega na bola, levanta a cabeça, olha, vê e executa com tanta perfeição que pode até avisar todo o estádio sobre o que vai fazer –é impossível travá-lo. Não tem a explosão de Luis Díaz, que é um génio autossuficiente, cuja interferência no jogo depende da forma como ataca o terreno nas costas da defesa contrária. Edwards é um jogador mais dependente dos outros, mas também mais conhecedor das chaves coletivas do jogo; é mais altruísta porque, sendo um bom finalizador (20 golos em duas épocas e meia, a partir das faixas laterais), o dom principal é melhorar a produção global e oferecer a glória aos outros.
Estrela maior e ídolo absoluto de um grande clube
como o V. Guimarães, é ele o alvo do interesse de Rúben Amorim. O treinador campeão não procura um avançado esquerdino, talentoso, eficaz, que atue na direita e se notabilize com diagonais que o aproximam do golo; ele pretende Marcus Edwards, jovem inglês de 23 anos, com formação no Tottenham, jogador solidário, de fácil inserção no coletivo e mestre do drible. Nesse capítulo, em que supera todos os atacantes leoninos (não é uma opinião, é um facto), o vimaranense é um sedutor, que domina a nobre arte de fazer ‘bluff’ com todo o corpo e se propõe enganar cada marcador. A bola é uma eterna aliada das tramoias que protagoniza, das falsas informações que transmite e da intenção final tantas vezes cumprida: escaparem juntos dos apertos em que se veem metidos.
O risco sportinguista, em termos desportivos e financeiros, é mínimo. Edwards domina a matéria-prima da finta como se tivesse nascido com os elementos imprescindíveis de domínio, arranque, travagem, aceleração e saída para onde o instinto indica. Se sai bem é um demónio à solta; se o travam, por norma à margem das leis, sucedem-se as infrações, os cartões amarelos e uma agitação geral capaz de mudar a fisionomia do jogo. Em Alvalade terá o apoio de um treinador com crédito ilimitado entre a família verde e branca, seduzido pelo seu talento, pelos dribles mortíferos, pelo estilo adaptado a um potencial herói. Pode ser o protagonista de uma transferência histórica.