Quando Palermo emerge
O FC PORTOÉ UM GRANDE CLUBE MAS TRAGICAMENTE SERVIDO POR GENTE QUE NUNCA RECUSOU AMPARO AOS MACACOS E ORELHAS, JÁ DE SEGUNDA GERAÇÃO, AOS SECTORES MAIS RADICAIS DE UMA CLAQUE ALIMENTADA POR NEGOCIATAS VÁRIAS
çO FCPorto foi um justo campeão. Marcou mais golos, sofreu menos do que os rivais, praticou o futebol mais eficaz e regular de todos. Mostrou, de novo, uma cultura competitiva invulgar e uma superioridade inquestionável na rentabilização desportiva de alguns dos seus melhores jogadores oriundos da formação.
Os dragões reuniram todos os ingredientes
para um final de época muito festivo, apostando na dobradinha, merecendo o triunfo em toda a linha. O que os jogadores, o treinador e os adeptos portuenses não mereciam era ver a camisola azul e branca associada ao bárbaro assassínio de um adepto por outros adeptos do mesmo clube, como aconteceu na noite da vitória decisiva sobre o Benfica. Não mereciam ver os triunfos desportivos conspurcados por franjas delinquentes de uma claque que a transformam em escudo protector dos seus crimes, das suas vinganças e de um poder que continua a ser perigosamente confortável para alguns dos títeres do clube. Coisa que se repete, aliás, noutros clubes, onde as claques continuam a ser o ninho da víbora que vai semeando, de forma absolutamente impune, a violência pelos estádios. Há quem as combata, como é o caso do Sporting, e quem com elas durma, como é o caso do FCPorto e do Benfica.
Na realidade histórica e social,
o futebol é uma importan- te representação política e económica. É uma arma que, se pe- rigosamente manipulada, pode provocar graves problemas de alarme social. Neste caso, não está em causa uma querela desportiva ou uma rivalidade. O futebol em si, não podia ser mais inocente. Mas por muito que alguns se esforcem em separar as águas, é im- possível afastar de Pinto da Costa os companheiros de uma velha caminhada contra os adversários, as instituições, os jornalistas, o Estado de Direito e mesmo da condição de mercenários numa ilusória guerra Norte/Sul. O FCPorto é um grande clube mas tragicamente servido por gente que nunca recusou amparo aos Macacos e Orelhas, já de segunda geração, aos sectores mais radicais de uma claque que tem sido alimentada por negociatas de toda a espécie, pela cumplicidade na tentativa de controlar, pela violência, a noite do Porto ou os esquemas do tráfico de droga nos velhos bairros. Para quem estudou um pouco a história da Mafia siciliana, não é estranha a ideia do caos de cada vez que as forças do esgoto emergem nas ruas de Palermo.