A íngreme ladeira
çEm 1970, o Sporting tinha ganho 17 campeonatos nacionais (incluindo todos os que se disputaram desde 1922), o Benfica, mesmo com Eusébio no auge e o dinheiro dos irmãos Vieira de Brito, 20 e o FC Porto 9.
Nos seguintes 52 anos, o Sporting só conseguiu ser campeão 6 vezes. Cá dentro e na Europa foi dolorosamente ultrapassado.
Tem algum interesse tentar compreender das razões deste abrupto divórcio com o sucesso, porque permitirá eventualmente corrigir o que está mal.
E este exercício é tanto mais penoso, quanto, em aspetos desportivos cruciais, como a formação, a organização dos clubes, a academia, a profissionalização da gestão, o Sporting foi pioneiro.
A primeira constatação tem que ver com a estabilidade financeira. O Sporting tinha fama de ser o clube da gente rica, mas sempre viveu historicamente em aperto. Não obstante os esforços de João Rocha e José Roquette, para dotarem o clube de sustentabilidade económica, o certo é que, salvo curtos momentos, o Sporting viveu sempre acima das suas posses, com o inevitável reflexo desportivo.
A segunda tem que ver com a qualidade dos dirigentes.
Não só durante muito tempo, era quase preciso pedir por favor para alguém se candidatar, como nos períodos de travessia do deserto, surgiram vendedores de ilusões, que desprestigiaram o clube. As elites do Sporting têm, infelizmente, o síndroma do distanciamento sofredor.
A terceira está relacionada com aquilo que designo como “o fora do campo”. Em Portugal ganham-se muitos campeonatos nas instâncias administrativas, disciplinares e arbitrais, e o Sporting deixou de se posicionar e ser relevante, até nos media. É, ainda, obviamente bom poder dizer-se que, salvo um lamentável caso menor, o Sporting, ou os seus dirigentes, nunca tiveram que ver com os sucessivos casos de corrupção desportiva que assolaram e assolam o futebol, mas como o caso “Apito Dourado” e outros demonstraram, a prevaricação compensa. É o futebol que temos.
Finalmente, os rivais do Sporting, em regra, têm sabido comprar e vender melhor e dispor de plantéis mais completos e homogéneos.
Numa coisa o Sporting não teme comparações: o empenho e dedicação da massa adepta, que aguentaram o clube nos momentos difíceis e evitaram a “belenização” tão agoirada pela concorrência. Os adeptos do Sporting são massa de campeão.
Estamos no bom caminho para encurtar distâncias. Só que vai levar tempo, a ladeira é íngreme e toca a todos.
EM PORTUGAL GANHAM-SE MUITOS CAMPEONATOS NAS INSTÂNCIAS ARBITRAIS