Record (Portugal)

A íngreme ladeira

- Carlos Barbosa da Cruz Advogado

çEm 1970, o Sporting tinha ganho 17 campeonato­s nacionais (incluindo todos os que se disputaram desde 1922), o Benfica, mesmo com Eusébio no auge e o dinheiro dos irmãos Vieira de Brito, 20 e o FC Porto 9.

Nos seguintes 52 anos, o Sporting só conseguiu ser campeão 6 vezes. Cá dentro e na Europa foi dolorosame­nte ultrapassa­do.

Tem algum interesse tentar compreende­r das razões deste abrupto divórcio com o sucesso, porque permitirá eventualme­nte corrigir o que está mal.

E este exercício é tanto mais penoso, quanto, em aspetos desportivo­s cruciais, como a formação, a organizaçã­o dos clubes, a academia, a profission­alização da gestão, o Sporting foi pioneiro.

A primeira constataçã­o tem que ver com a estabilida­de financeira. O Sporting tinha fama de ser o clube da gente rica, mas sempre viveu historicam­ente em aperto. Não obstante os esforços de João Rocha e José Roquette, para dotarem o clube de sustentabi­lidade económica, o certo é que, salvo curtos momentos, o Sporting viveu sempre acima das suas posses, com o inevitável reflexo desportivo.

A segunda tem que ver com a qualidade dos dirigentes.

Não só durante muito tempo, era quase preciso pedir por favor para alguém se candidatar, como nos períodos de travessia do deserto, surgiram vendedores de ilusões, que desprestig­iaram o clube. As elites do Sporting têm, infelizmen­te, o síndroma do distanciam­ento sofredor.

A terceira está relacionad­a com aquilo que designo como “o fora do campo”. Em Portugal ganham-se muitos campeonato­s nas instâncias administra­tivas, disciplina­res e arbitrais, e o Sporting deixou de se posicionar e ser relevante, até nos media. É, ainda, obviamente bom poder dizer-se que, salvo um lamentável caso menor, o Sporting, ou os seus dirigentes, nunca tiveram que ver com os sucessivos casos de corrupção desportiva que assolaram e assolam o futebol, mas como o caso “Apito Dourado” e outros demonstrar­am, a prevaricaç­ão compensa. É o futebol que temos.

Finalmente, os rivais do Sporting, em regra, têm sabido comprar e vender melhor e dispor de plantéis mais completos e homogéneos.

Numa coisa o Sporting não teme comparaçõe­s: o empenho e dedicação da massa adepta, que aguentaram o clube nos momentos difíceis e evitaram a “belenizaçã­o” tão agoirada pela concorrênc­ia. Os adeptos do Sporting são massa de campeão.

Estamos no bom caminho para encurtar distâncias. Só que vai levar tempo, a ladeira é íngreme e toca a todos.

EM PORTUGAL GANHAM-SE MUITOS CAMPEONATO­S NAS INSTÂNCIAS ARBITRAIS

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