Da equidade à não-equidade
O SP. BRAGA ESTARÁ A NADAR EM DINHEIRO DESDE QUE VENDEU DAVID CARMO AO FC PORTO POR 20 MILHÕES FICANDO COM ESSA FORTUNA DEPOSITADA NO BANCO E FICANDO O FC PORTO COM O PRÓPRIO DAVID CARMO DEPOSITADO NO BANCO. PARECE EQUIDADE, MAS NÃO É
A equidade é um valor precioso. Também no que diz respeito ao futebol profissional, a equidade é um princípio na organização das competições. À partida, no meio e à chegada, todos os emblemas são iguais perante os regulamentos e perante as intenções. Havendo, naturalmente, interesses comuns a todos os clubes na organização e gestão das competições, os interesses competitivos de um emblema são exclusivos a esse emblema e a mais nenhum. O Sp. Braga vem ferindo esta noção com um desplante de se lhe tirar o chapéu.
Neste último jogo a contar para a Taça de Portugal
decidiu o Sporting de Braga disponibilizar ao Benfica apenas os 1500 bilhetes que o regulamen- to impõe para os adeptos da equipa visitante e manter fechada ao público uma bancada do seu bonito campo. Já num jogo anterior em sua casa, tendo por adversário o FC Porto, decidiu o Sp. Braga ceder a lotação total de uma bancada aos adeptos visitantes para, segun- do a imprensa, “encaixar 100 mil euros” com a venda de cinco mil bilhetes. E aqui está uma dupla manifestação exemplar de não-equidade. Neste último caso foi o Benfica lesado duas vezes. Uma vez porque um número muito significativo dos seus adeptos foi impedido de assistir ao jogo. Duas vezes porque vendo-se a receita da bilheteira substancial e delibe- radamente enfraquecida a divisão dos proventos refletiu essa mesma original filosofia do espetáculo e o Benfica perdeu dinheiro.
É verdade que o Sp. Braga também perdeu dinheiro,
mas, pelos vistos, não lhe faz falta. Dirão os benfiquistas mais afoitos nestas retóricas que o Sp. Braga fez o que fez porque estará a nadar em dinheiro desde que vendeu um defesa-central, David Carmo, ao FC Porto, por uns valentes 20 milhões de euros ficando com essa fortuna depositada no banco e ficando o FC Porto com o próprio David Carmo depositado no banco, o que pode parecer equidade, mas não é. Aliás, de acordo com a imprensa, os termos desse negócio são outro marco da não-equidade entre concorrentes numa competição desportiva profissional. O FC Porto pagará 500 mil euros ao Sp. Braga por cada vez que for campeão no período de vigência do contrato com David Carmo, condição que dinamita o princípio de equidade na competição – os interesses de um emblema são exclusivos a esse emblema e a mais nenhum. E é nisto que andamos.
As artes de comunicação dos treinadores de futebol
são fáceis de descortinar. Quando a equipa vai bem o treinador é um grande comunicador, quando a equipa vai mal o treinador é um péssimo comunicador. E será isto que está a suceder com Rúben Amorim e esta compulsão de repetir e repetir e repetir – “já disse isto mil vezes”, admitiu sorridente – que deixa o Sporting assim que o Sporting quiser, enfim, começa a parecer mais uma súplica do que uma constatação.
AS ARTES DE COMUNICAÇÃO DOS TREINADORES SÃO FÁCEIS DE DESCORTINAR