A fórmula de Conceição
DEPOIS DE TER AVASSALADO A TAÇA DA LIGA E A SUPERTAÇA, O FC PORTO MANTÉM-SE VIVO EM TODAS AS FRENTES. O TRIUNFO, NO ÚLTIMO DOMINGO, EM ALVALADE, O QUINTO CONSECUTIVO FRENTE À EQUIPA ORIENTADA POR RÚBEN AMORIM, CONFIRMOU-O, COROANDO A ELASTICIDADE TÁTICA-ESTRUTURAL DOS DRAGÕES, ASSIM COMO A FORMA CIRÚRGICA COMO CONDUZEM AS PARTIDAS PARA OS TERRITÓRIOS EM QUE SE SENTEM MAIS ACONCHEGADOS
1 Por um lado, a elasticidade tática e estrutural, cada vez mais estimulada por Sérgio Conceição, terminante para aguçar a versatilidade e o conhecimento do jogo do seu esquadrão. Por outro lado, a forma como a equipa controla e gere os diferentes momentos das partidas, dirigindo-as, com tremenda acuidade e ferocidade, para os territórios em que se sente mais aconchegada. Não esbanjando a propriedade de se metamorfosear de (falsa) presa em dilacerante predador. Eis os vetores que permitem ao FC Porto, sem necessitar de atingir a nota artística distinta, seguir numa senda de 9 triunfos consecutivos e de 21 partidas de invencibilidade, certificando 11 balizas-virgens nos derradeiros 14 jogos. O mérito da equipa técnica comandada pelo conimbricense é esdrúxulo, e retrata a qualidade do trabalho que tem realizado nos dragões, argamassado na notável capacidade que manifesta para (se) reinventar, ao não se acomodar na sombra cálida dos inúmeros títulos e troféus conquistados. Por isso mesmo, sem contar com o nuclear Otávio, o futebolista que melhor transporta para os campos de peleja a cátedra do treinador, além de Wendell, Evanilson, Veron e Fábio Cardoso, os dragões suplantaram um clássico electrizante em Alvalade, somando o quinto triunfo consecutivo diante dos leões de Rúben Amorim, e seguem vivos em todas as frentes. No campeonato – em 2.º lugar, a 5 pontos do líder Benfica, para quem encurtaram distâncias desde o recomeço da competição –, na Taça – prova em que se digladiarão com o Famalicão nas meias –, e na Champions – à espe- ra de um duplo confronto pungente ante o Inter –, depois de terem avassalado a Supertaça e a Taça da Liga.
2 um antídoto para as especi- ficidades do inegociável 3x4x3 de Rúben Amorim, desde o curto espaço temporal em que orientou o Braga, foi uma tarefa hercúlea para Conceição. Como o próprio chegou a admitir em público, ao considerar que os princípios eram inteligíveis, mas árduos de contrariar. Por isso, os 8 primeiros embates entre ambos redundaram em 3 triunfos para o treinador dos leões, 4 empates, e apenas uma vitória para o líder dos dragões. No último do- mingo, a versão mais burilada dos portistas, que já começara a ressaltar nas meias da Taça’21/22, para contrariar os processos de construção e de criação dos leões, voltou a ser impositiva. O que não obstou a que o Sporting cerrasse o embate, tal como ocorrera na final da Taça da Liga, como a equipa com mais posse, que mais – e melhores – passes execu- ta, e que mais remates efetua e enquadra. Mais uma vez, o FC Porto comprovou a sua enorme elasticidade estrutural, e a forma cirúrgica como consegue guiar os jogos para a sua zona de conforto. Não foi, ao contrário do que acontecia num passado menos vitorioso, uma equipa feérica a condicionar a primeira fase de construção dos leões, privilegiando, em momento defensivo, o 4x4x2 clássico, com Taremi e Pepê a formarem a primeira linha de obstrução. O que não coibia os portistas de se reorganizarem, em zonas mais baixas, num 5x3x2, indagando mais garantias no controlo da largura, sobretudo ante uma equipa que privilegia o jogo exterior para chegar a zonas de finalização. Se, em jogos anteriores, concorria ao médio-defensivo baixar para o espaço entre os centrais, Galeno, à seme- lhança do que já sucedera em Leiria, passou a ser o quinto elemento do sector recuado, tal como fazia com Carvalhal em Braga. Assim, competia-lhe fechar o corredor esquerdo, escoltando as investidas de Bellerín, possibilitando que Zaidu se deslocasse para um espaço interior, aproximando-se de Edwards, metamorfoseando-se num terceiro-central. Enquanto isso, no lado oposto, João Mário mantinha o papel de lateral, encaixando em Fatawu, aposta de Amorim para introduzir mais imprevisibilidade no um contra um, o que não surtiu os efeitos cobiçados. Ao centro, Grujic e Uribe eram, com os apoios importantes de Franco e de Pepê, os responsáveis por bloquearem o jogo interior do Sporting, o que sucedeu, mesmo quando Amorim, aos 34 minutos, com a saída de Trincão para a entrada de Paulinho, que se juntou no ataque a Chermiti, colocou Edwards e Pote como in- teriores-ofensivos, mudando a estrutura para um 3x5x2, que se desdobrava, no assalto ao último terço, em 3x3x4.
3 Em momento ofensivo, o FC Porto privilegiou o 4x4x2 em losango. Competia ao elétrico Pepê funcionar como vértice ofensivo, enquanto André Franco e Uribe, numa linha superior à do vértice defensivo Grujic, desempenhavam o papel de interiores. Na frente, Taremi, a partir da direita, e Galeno, a partir da esquerda, formavam uma du- pla bastante móvel que visava o assalto do espaço entre lateral e central-exterior. E foi de uma ligação entre ambos, na insistência após um lançamento lateral, que o iraniano enviou uma bola ao ferro na melhor oportunidade da etapa inicial, em que o Sporting se exprimiu mais incisivo na busca do arco rival. Contudo, sem deixar de sentir arduidades para condicionar os processos de construção dos dragões, reflexo do baixar de André Franco para o espaço à direita da primeira linha de construção, o que libertou, em várias situações, João Mário, assentido a que o FC Porto carrilasse mais jogo pelo corredor direito. Só que o desbloquear definitivo do resultado ocorreu na segunda parte, onde, por mérito dos portistas, o embate se afastou das duas balizas. Primeiro, Uribe, com felicidade nos ressaltos, a concluir uma iniciativa marcada pela conquista de segundas bolas por parte do colombiano e de Grujic no terço ofensivo. Depois, a ferocidade de Pepê no assalto à profundidade, dando sequência a uma primeira bola aérea ganha por Toni Martínez após um pontapé de baliza de Diogo Costa. Curiosamente, numa altura, em que os portistas se fecharam num 5x4x1, de forma a estorvarem os cruzamentos incessantes do Sporting em busca do jogo aéreo de Chermiti. Primeiro, com Manafá a entrar para lateral-esquerdo, fixando-se Zaidu como central. Depois, com David Carmo como terceiro-central, devolvendo Zaidu à lateral-esquerda, enquanto Manafá se deslocou para a direita. O que não evitou que o jovem açoriano disfrutasse, entre os 87 minutos e o sétimo minuto da compensação, de quatro oportunidades para visar, ao segundo poste, a baliza de Diogo Costa. A última, após cruzamento da direita de Arthur, firmou o 1x2 final.