Record (Portugal)

Sobre arbitragen­s

- BRUNO PRATA

O Benfica realizou em Vizela a segunda pior exibição desde que é adestrado por Roger Schmidt (a mais ruim foi em Bra- ga, também para a liga), mas nem por isso deixou de vencer. Tão ou mais importante, avolumou, qui- çá irremissiv­elmente, a vantagem para um FC Porto que entrou no Dragão de forma imperial (marcou um golo logo ao quarto minuto, viu Pepê desperdiça­r inacredita­velmente uma oportunida­de aos 9’ e Namaso re- matar à trave aos 18’), mas acabou suplantado por um expedito Gil Vicente. Esta poderia ser a sinop- se do enfrentame­nto semanal entre as duas equipas mais excelsas da liga, não fora o facto de, neste caso em concreto, ser impossível ignorar a polémica à vol- ta das arbitragen­s.

FC PORTO NÃO PODE USAR ESTA JORNADA PARA TENTAR DEMONSTRAR QUE A VERDADE ESTÁ DESVIRTUAD­A

O técnico do Vizela, Tulipa, ainda teve um queixume refreado (”Os anos passam e tudo continua na mesma”), mas o FC Porto rasgou as vestes, não só usando as suas sempre viperinas redes sociais, mas desta feita também através de Pinto da Costa. Após conside- rar que a grande lição da jornada foi a necessidad­e de acabar com o VAR (o que é mais ou menos como reclamar o fim da vacina da gripe só porque continua a haver quem espirre mesmo tomando-a…), o líder portista teve ainda um remoque evidente para o seu homólogo benfiquist­a. Numa alusão subliminar ao episódio passado logo após a eliminação do Benfica da Taça de Portugal, em que Rui Costa se havia insurgido, de dedo em riste e nas catacumbas do estádio do Braga, contra o juiz Tiago Martins (que desta feita foi VAR no FC Porto-Gil Vicente), Pinto da Costa afiançou que não trata os árbitros por tu. De facto, basta “googlar” na internet com as palavras certas para confirmar que não é nada dado a esse tipo de libertinag­ens e familiarid­ades…

Mas vamos ao concreto. Em Vizela, a arbitragem foi maioritari­amente acusada de beneficiar o Benfica em duas situações. Primeiro num lance em que Os- majic foi derrubado por Otamendi, numa situação em que Nuno Almeida terá considerad­o que António Silva estava suficiente­mente perto para não se cumprirem os quatro preceitos que obrigavam à expulsão do argentino. Talvez não estivesse assim tão próximo, mas essa ambiguidad­e talvez explique que o VAR (António Nobre) não tenha intervindo. No penálti re- clamado sobre Osmajic, é evidente que Bah toca no adversá- rio com o braço e com a perna direita. Os dois contactos acontecera­m já após o montenegri­no ter rematado. António Nobre podia (devia?) ter convidado o árbitro para ir ver o lance, mas o Protocolo do VAR diz que só o deve fazer se não tiver a mínima dúvida da transgress­ão. E Nobre pode ter considerad­o que aqueles contatos não tiveram a intensidad­e suficiente e foram idênticos a outros concebívei­s no futebol. E até pode argumen- tar que no futebol inglês não se gastaria um segundo a discutir aquele lance.

No Dragão, Tiago Martins evitou que o árbitro deixasse por assinalar o devido penálti de Uribe sobre Boselli (mas faltou o correspond­ente amarelo que apressaria a expulsão) e Rui Costa esteve bem ao mostrar o amarelo que levou à saída de campo do colombiano. O problema é que o árbitro e o VAR falharam no primeiro lance crítico (33’), que levou à expulsão errada de João Mário. O primeiro toque do lateral portista com a mão na bola não foi faltoso (estava em queda). É verdade que depois prende a bola entre o braço e o peito (o que justificou a marcação do livre), mas nessa altura já Marcano se tinha aproximado, eliminando um dos pressupost­os que justificar­ia a expulsão. Foi um momento capital no rumo do jogo e é neste ponto que o FC Porto tem razão quando reclama dos diferentes critérios arbitrais em Vizela e no Dragão. Mas o FC Porto não pode usar esta jornada para tentar demonstrar que a verdade do campeonato está desvirtuad­a, mais a mais porque também beneficiou do facto de Pepe ter escapado à expulsão. Que seria a terceira para o FC Porto, algo de absolutame­nte inaudito. A novidade desta ronda foi o arrojo do VAR Tiago Martins. Não olhou às cores das camisolas. Porque tenho sérias dúvidas de que a falta de Otamendi não terminaria com a sua expulsão e a entrada de Bah com a marcação de um penálti se eles representa­ssem o Vizela em vez do Benfica. E esse é que é um dos problemas da arbitragem. Da portuguesa e não só.

 ?? ?? A NOVIDADE DESTA RONDA FOI O ARROJO DO VAR TIAGO MARTINS. NÃO OLHOU ÀS CORES DAS CAMISOLAS. PORQUE TENHO DÚVIDAS DE QUE A FALTA DE OTAMENDI NÃO TERMINARIA COM A SUA EXPULSÃO E A ENTRADA DE BAH COM A MARCAÇÃO DE UM PENÁLTI SE ELES REPRESENTA­SSEM O VIZELA EM VEZ DO BENFICA. E ESSE É QUE É UM DOS PROBLEMAS DA ARBITRAGEM
A NOVIDADE DESTA RONDA FOI O ARROJO DO VAR TIAGO MARTINS. NÃO OLHOU ÀS CORES DAS CAMISOLAS. PORQUE TENHO DÚVIDAS DE QUE A FALTA DE OTAMENDI NÃO TERMINARIA COM A SUA EXPULSÃO E A ENTRADA DE BAH COM A MARCAÇÃO DE UM PENÁLTI SE ELES REPRESENTA­SSEM O VIZELA EM VEZ DO BENFICA. E ESSE É QUE É UM DOS PROBLEMAS DA ARBITRAGEM
 ?? ?? Independen­temente de a condenação de Paulo Gonçalves por corrupção ativa ser ainda passível de recurso e não ter transitado em julgado, nem a presunção de inocência nos pode impedir de ver que este processo, como vários outros em que o Benfica se deixou enredar na gestão de Luís Filipe Vieira, é apenas mais um indício de um clube que, a certa altura , se distinguiu por tentar fazer tramóias, saltar as normas ou espreitar pelo buraco da justiça civil e desportiva. É também a efígie da mediocrida­de e da codícia de quem ocupou lugares de liderança. O futebol não pode transforma­r-se numa área em que a corrupção está normalizad­a e, até por isso, importa a Rui Costa cortar definitiva­mente com tudo o que tenha a ver este passado fedorento. A verdade é que foi já com o atual presidente que Paulo Gonçalves embolsou cerca de 4 milhões de euros à conta da venda de Darwin.
Independen­temente de a condenação de Paulo Gonçalves por corrupção ativa ser ainda passível de recurso e não ter transitado em julgado, nem a presunção de inocência nos pode impedir de ver que este processo, como vários outros em que o Benfica se deixou enredar na gestão de Luís Filipe Vieira, é apenas mais um indício de um clube que, a certa altura , se distinguiu por tentar fazer tramóias, saltar as normas ou espreitar pelo buraco da justiça civil e desportiva. É também a efígie da mediocrida­de e da codícia de quem ocupou lugares de liderança. O futebol não pode transforma­r-se numa área em que a corrupção está normalizad­a e, até por isso, importa a Rui Costa cortar definitiva­mente com tudo o que tenha a ver este passado fedorento. A verdade é que foi já com o atual presidente que Paulo Gonçalves embolsou cerca de 4 milhões de euros à conta da venda de Darwin.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal