Sobre arbitragens
O Benfica realizou em Vizela a segunda pior exibição desde que é adestrado por Roger Schmidt (a mais ruim foi em Bra- ga, também para a liga), mas nem por isso deixou de vencer. Tão ou mais importante, avolumou, qui- çá irremissivelmente, a vantagem para um FC Porto que entrou no Dragão de forma imperial (marcou um golo logo ao quarto minuto, viu Pepê desperdiçar inacreditavelmente uma oportunidade aos 9’ e Namaso re- matar à trave aos 18’), mas acabou suplantado por um expedito Gil Vicente. Esta poderia ser a sinop- se do enfrentamento semanal entre as duas equipas mais excelsas da liga, não fora o facto de, neste caso em concreto, ser impossível ignorar a polémica à vol- ta das arbitragens.
FC PORTO NÃO PODE USAR ESTA JORNADA PARA TENTAR DEMONSTRAR QUE A VERDADE ESTÁ DESVIRTUADA
O técnico do Vizela, Tulipa, ainda teve um queixume refreado (”Os anos passam e tudo continua na mesma”), mas o FC Porto rasgou as vestes, não só usando as suas sempre viperinas redes sociais, mas desta feita também através de Pinto da Costa. Após conside- rar que a grande lição da jornada foi a necessidade de acabar com o VAR (o que é mais ou menos como reclamar o fim da vacina da gripe só porque continua a haver quem espirre mesmo tomando-a…), o líder portista teve ainda um remoque evidente para o seu homólogo benfiquista. Numa alusão subliminar ao episódio passado logo após a eliminação do Benfica da Taça de Portugal, em que Rui Costa se havia insurgido, de dedo em riste e nas catacumbas do estádio do Braga, contra o juiz Tiago Martins (que desta feita foi VAR no FC Porto-Gil Vicente), Pinto da Costa afiançou que não trata os árbitros por tu. De facto, basta “googlar” na internet com as palavras certas para confirmar que não é nada dado a esse tipo de libertinagens e familiaridades…
Mas vamos ao concreto. Em Vizela, a arbitragem foi maioritariamente acusada de beneficiar o Benfica em duas situações. Primeiro num lance em que Os- majic foi derrubado por Otamendi, numa situação em que Nuno Almeida terá considerado que António Silva estava suficientemente perto para não se cumprirem os quatro preceitos que obrigavam à expulsão do argentino. Talvez não estivesse assim tão próximo, mas essa ambiguidade talvez explique que o VAR (António Nobre) não tenha intervindo. No penálti re- clamado sobre Osmajic, é evidente que Bah toca no adversá- rio com o braço e com a perna direita. Os dois contactos aconteceram já após o montenegrino ter rematado. António Nobre podia (devia?) ter convidado o árbitro para ir ver o lance, mas o Protocolo do VAR diz que só o deve fazer se não tiver a mínima dúvida da transgressão. E Nobre pode ter considerado que aqueles contatos não tiveram a intensidade suficiente e foram idênticos a outros concebíveis no futebol. E até pode argumen- tar que no futebol inglês não se gastaria um segundo a discutir aquele lance.
No Dragão, Tiago Martins evitou que o árbitro deixasse por assinalar o devido penálti de Uribe sobre Boselli (mas faltou o correspondente amarelo que apressaria a expulsão) e Rui Costa esteve bem ao mostrar o amarelo que levou à saída de campo do colombiano. O problema é que o árbitro e o VAR falharam no primeiro lance crítico (33’), que levou à expulsão errada de João Mário. O primeiro toque do lateral portista com a mão na bola não foi faltoso (estava em queda). É verdade que depois prende a bola entre o braço e o peito (o que justificou a marcação do livre), mas nessa altura já Marcano se tinha aproximado, eliminando um dos pressupostos que justificaria a expulsão. Foi um momento capital no rumo do jogo e é neste ponto que o FC Porto tem razão quando reclama dos diferentes critérios arbitrais em Vizela e no Dragão. Mas o FC Porto não pode usar esta jornada para tentar demonstrar que a verdade do campeonato está desvirtuada, mais a mais porque também beneficiou do facto de Pepe ter escapado à expulsão. Que seria a terceira para o FC Porto, algo de absolutamente inaudito. A novidade desta ronda foi o arrojo do VAR Tiago Martins. Não olhou às cores das camisolas. Porque tenho sérias dúvidas de que a falta de Otamendi não terminaria com a sua expulsão e a entrada de Bah com a marcação de um penálti se eles representassem o Vizela em vez do Benfica. E esse é que é um dos problemas da arbitragem. Da portuguesa e não só.