Os peritos e o exemplo espanhol

No que toca à análise dos erros de arbitragem, convém levar em conta que existem sempre três lados: o nosso (incluindo o de cada um dos leitores), o da outra pessoa e o lado de quem, porventura, está certo. Esta trilogia confirma-se até na variedade de opiniões, tantas vezes contrastantes, dos ex-árbitros que agora esmiúçam o trabalho dos ex-colegas. Há quem o faça com lisura e emancipação, mas também há quem não consiga disfarçar a desinformação e, pior, as embirrações e até os ódios antigos. E a diferença de postura é bem patente nas situações cinzentas em que é possível mais do que uma interpretação. E este é um transtorno que o Protocolo do VAR não resolveu, se é que não veio mesmo ampliá-lo. A minha opinião é de que, no futebol português, se marcam demasiados penáltis e se expulsa com demasiada facilidade em situações em que os lesados se lançam ao solo, como se tivessem ficado sem oxigénio, para logo se recomporem num estalar de dedos. É difícil interpretar e aplicar as 17 leis do jogo, mas a falta de jeito de alguns árbitros também não ajuda nada a que a classe ganhe respeito e autoridade. As polémicas crescem quando as ligas se aproximam do último terço. Não é um exclusivo nacional e em Espanha também se diz hoje que a sua arbitragem enfrenta a sua maior crise reputacional e de imagem. Isso ficou patente no recente dérbi de Madrid, em que o Atlético se queixou de o árbitro ter tido o gatilho demasiado fácil na expulsão de Correa (o pequeno argentino, ao tentar libertar-se dos agarrões do gigante Rüdiger, deu uma ligeira cotovelada ao alemão). Foi a 5. ª vez seguida, e a 3.ª esta época, que o ex-clube de Futre se viu em inferioridade numérica frente ao Real. Lá como cá, há imensas teorias conspirativas, principalmente após se ter descoberto que um ex-vice-presidente do conselho de arbitragem, Enríquez Negreira, ter recebido do Barcelona cerca de 7 milhões de euros durante 17 anos, supostamente para favorecer o clube catalão.