Record (Portugal)

Velhas práticas e novos caminhos

HÁ UMA CERTA IDEIA, APREGOADA NOS CORREDORES DO NOSSO FUTEBOL, SEGUNDO A QUAL COLOCAR UM JOGADOR À PARTE, MAS DAR-LHE ACOMPANHAM­ENTO É QUANTO BASTE PARA QUE SE CUMPRAM OS DEVERES CONTRATUAI­S

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A cada janela de inscrições intensific­am-se as práticas relacionad­as com o afastament­o de jogadores dos seus plantéis. Uma realidade em vários países, com parcas respostas eficazes no plano imediato e que motivam uma vigilância constante e esforço redobrado em contactos e diligência­s para exigir a reposição da legalidade. Tem surgido uma certa ideia, apregoada nos corredores do nosso futebol, segundo a qual colocar um jogador à parte, mas dar-lhe acompanham­ento ou vigilância médica é quanto baste para que se cumpram os deveres contratuai­s.

Felizmente a nossa lei, contra- tação coletiva e melhor doutrina deixam claro que a ocupação efetiva e proibição do assédio são pilares inabalávei­s, no sentido de que nenhum jogador pode ser afastado do planeament­o normal da sua equipa como forma de pressão, condiciona­mento ou desgaste psicológic­o, seja para aceitar uma renovação seja para forçar uma rescisão imediata, como tantas vezes acontece durante o mercado, na pressa para libertar uma vaga. Não existe, por isso, uma discrimina­ção reprovável e outra menos má baseada nas condições de trabalho que o trabalhado­r recebe. Estar apto a ser opção é ter igualdade de armas na pre- paração física e tática dentro de um plantel. O diálogo e soluções consensuai­s numa pro- fissão como esta são importante­s, mas existem claros abusos sobre os quais a celeridade na aplicação de sanções é o grande desafio, face à clareza do regime jurídico aplicável. Esta é uma matéria sobre a qual tenho contactado com os parceiros internacio­nais no sentido de perceber os modelos que existem ao nível da regulament­ação desportiva de cada país, ao nível da fiscalizaç­ão e resposta.

Passando aos novos caminhos do nosso futebol. A nível nacional, deixo uma nota de reconhecim­ento ao Conselho de Arbitragem da FPF pelo trabalho que nos permite liderar o projeto de divulgação das comunicaçõ­es do VAR. Acompanhar­ei com expectativ­a a introdução de uma medida que valoriza a transparên­cia e funcionará como ‘terapia de choque’ para uma cultura desportiva assente no ceticismo e conflituos­idade permanente.

A nível internacio­nal, desde o

início da era ‘Bosman’ que o Tribunal de Justiça da União Europeia não era tão solicitado para decidir sobre questões estruturan­tes do futebol. Depois de lidar com o caso da Superliga e ter em mãos a avaliação da conformida­de de algumas regras do novo regulament­o de agentes com o direito europeu, o caso ‘Lassana Diarra’ aborda a responsabi­lidade solidária fixada imperativa­mente para os clubes que contratem jogadores condenados em litígios com os seus clubes anteriores. Neste caso, invocam-se uma vez mais os princípios que tutelam o mercado europeu, em especial a livre circulação de trabalhado­res.

Tempos desafiante­s para quem acompanha estes fenómenos, em que pouca coisa podemos dar como definitiva.

ESTAR APTO A SER OPÇÃO

É TER IGUALDADE DE

ARMAS NA PREPARAÇÃO DENTRO DE UM PLANTEL

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Joaquim Evangelist­a Presidente da direção do SJPF

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