Record (Portugal)

Era uma vez o maior caça-talentos da Argentina

- Filipe Alexandre Dias Editor executivo

Há um lugar na Argentina onde o talento parece infindável. Chama-se província de Santa Fé. Na sua maior cidade, Rosário, há um clube conhecido por ser um dos maiores ‘semilleros’ do país das pampas. Responde pelo nome de Newell’s Old Boys e é, para muitos, o emblema que melhor personific­a a qualidade do jogador rosarino, que tem uma ginga diferente do jogador de Buenos Aires. O Newell’s tem das melhores formações – senão mesmo a melhor – de uma nação tricampeã mundial. Não acredita? Ali, foi forjado o talento de Valdano, Batistuta, Balbo, Sensini, Gallego, Tata Martino, Pochettino, Walter Samuel, Duscher, Heinze, Berizzo, Maxi Rodríguez e Belluschi. Ah, e o selecionad­or nacional campeão do mundo Solari e um tal ‘pibe’ que saiu cedo demais da cantera do Newell’s. Ainda joga. Chama-se Lionel Messi. Todos saíram das chamadas ‘inferiores’ dos ‘leprosos’. E todos – quase todos, vá... – passaram pelo olho de lince e mãos hábeis de um homem: Jorge Griffa. Temos de falar sobre esta figura que nos deixou na última segunda-feira…

Bem antes de ser um mestre formador, Jorge Griffa foi senhor da sua casa: a grande área. Também ele produto das ruas de Santa Fé e um ‘filho’ do Newell’s, Griffa era um central de ferro. Começou por destacar-se nos ‘leprosos’, foi internacio­nal argentino e o Atlético de Madrid chamou-o em 1959. Dez épocas e cinco títulos à beira do Manzanares depois, ainda jogou no Espanhol de Barcelona, retirando-se em 1971 com o futebol espanhol a seus pés.

Pese o sucesso, não foi esse o Jorge Griffa que a memória coletiva eternizou. Ao pendurar as botas, voltou a Rosário e ao Newell’s. Dedicou-se a treinar a miudagem. Mais: começou a encetar périplos pela zona de Santa Fé a fazer prospeção. Sozinho primeiro e com uma companhia depois. Com aquele que considerou o seu maior aluno. Um tal Marcelo Bielsa. À altura, ‘El Loco’ ainda jogava no Newell’s (teria carreira breve), mas já bebia os ensinament­os do professor, que começou a ver o talento que caçava traduzido na primeira equipa. Batistuta foi a sua primeira grande descoberta.

Muito por culpa de Griffa, o Newell’s (um grande regional), cometeu a proeza de se sagrar campeão argentino em 1988 com uma equipa cujo onze inicial era todo (!) composto por matéria da casa.

Mas ‘El Maestro’ não se ficou pelo clube do coração. Trabalhou no Independie­nte e no Boca Juniors. Com igual competênci­a. Nessa fase, foi ele o primeiro a detetar pepitas de ouro como Éver Banega, Fernando Gago e Carlos Tévez.

Respeitado como muito poucos, o decano da formação argentina obteve novo sucesso com o seu livro. “39 anos en divisiones inferiores”, livremente traduzido para “39 anos na formação”. Deu nome a institutos, a centros de treino, deu palestras pelo mundo e deixou uma marca profunda em cada capítulo da sua vida desportiva. Na passada segunda-feira, o futebol perdeu um dos seus melhores. *

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