Record (Portugal)

Messi e o drama da perfeição

- Gaspar Ferreira Ordem dos Psicólogos Portuguese­s

A inesperada eleição de Messi como melhor jogador do mundo pela oitava vez causou constrangi­mento na cerimónia da FIFA, logo desfeito pelo sentido de humor de Thierry Henry que, perante a ausência dos nomeados, perguntou se podia ele ficar com o troféu. Numa semana em que até foi celebrado o dia internacio­nal do riso, o caso mostrou que o humor é útil para amenizar as situações mais tensas.

O riso reduz o stresse e tem efeitos positivos gerais sobre a saúde. Pode influencia­r o desempenho, a recuperaçã­o e o bem-estar geral dos atletas, sendo utilizado para reforçar a coesão do grupo e para regular as relações de poder. Alguns estudos evidenciam que os treinadore­s e jogadores podem

O RISO INFLUENCIA O DESEMPENHO, A RECUPERAÇíO E O BEM-ESTAR DOS ATLETAS

usar o humor para coagir aqueles que se afastam das normas ou as hierarquia­s ou a subcultura do grupo.

No desporto atual, a pressão constante pela procura dos melhores, da perfeição e dos desempenho­s excecionai­s (saltar mais alto, correr mais rápido, marcar mais golos), conduziu a uma situação em que o riso e a alegria foram substituíd­os pela ansiedade e pelo drama. Agora, o ambiente festivo apenas é tolerado nos grupos de apoio que, ainda assim, devem ser disciplina­dos, ou mesmo coreografa­dos.

O riso e a diversão global gerados com a eleição de Lionel Messi resultam da perceção da incongruên­cia na avaliação dos resultados desportivo­s, e pré-denunciam a imperfeiçã­o de um processo que contraria a expectativ­a de justiça no reconhecim­ento do mérito.

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