A memória eletiva
Os dois candidatos mais fortes à Presidência do FC Porto deram passos decisivos na última semana.
André Villas-Boas foi o primeiro a apresentar-se aos sócios, num evento onde reuniu mais de 700 pessoas na Alfândega do Porto. Com ele estiveram nomes como Cecília Pedroto, Jorge Costa, Sousa, Angelino Ferreira, Joaquim Oliveira, Pedro Burmester ou Álvaro Magalhães.
Pinto da Costa reuniu, horas depois, cerca de 200 comensais numa Quinta em Gondomar, contando com figuras como Fernando Póvoas, Carlos Magno, Alípio Jorge, Martins Soares, Fernando Cerqueira, Fernando Madureira e Miguel Roque.
Villas-Boas não deixou de mostrar gratidão pelo legado desportivo de Pinto da Costa, mas apontou o dedo aos falhanços compulsivos da sua gestão financeira.
Questionou como é que um clube que encaixa 2,9 mil milhões de euros nos últimos 20 anos tem hoje uma dívida de mais de 500 M€? AVB não se conforma com as 12 saídas recentes a custo zero e, na sua opinião, o Porto sofre ainda de uma falta de transparência crónica no que às comissões diz respeito.
AVB deixou propostas sobre a construção da Academia de Futebol perto do Olival (e não na Maia) e reafirmou a promessa do corte de mais de 50% nos vencimentos dos Administradores da SAD, bem como nos prémios de desempenho. Para ele, o departamento de scouting tem de ser melhorado e o futebol feminino bem como o futsal terão de ser uma realidade quase imediata.
Pinto da Costa não foi meigo nas suas palavras. Qual lutador de “vale-tudo”, afirmou que Villas-Boas saiu da sua cadeira de sonho em 2011 por amor ao dinheiro. Esqueceu-se, no entanto, de referir que o Porto recebeu 15 M€ por essa saída. Mas se pensa isto de AVB, terá pensamento similar sobre Mourinho ou Artur Jorge, que após as conquistas da Champions e a Taça dos Campeões Europeus também saíram para o Chelsea por 6 M€ e para o Matra Racing a custo zero, respetivamente.
E por falar em amor ao dinheiro, Pinto da Costa já disse por várias vezes que a redução salarial (672 mil euros anuais) do seu vencimento anual e os prémios recebidos pela SAD (1,6M€ pagos no último ano) não são tema. Quer pelos vistos, aos 86 anos, continuar a receber o dito vencimento por mais 4 anos e os outros é que têm obsessão pela Presidência?
Pinto da Costa acenou ainda com a conquista dos 68 títulos no futebol, mas esqueceu-se de agradecer os 4 títulos que Villas-Boas depositou no Museu do Dragão, no ano em que foi treinador principal. É a chamada memória eletiva.