O Lucky Luke que dá suor à pontaria
EVANILSON NÃO É O COWBOY INSOLENTE QUE ENTROU NA LENDA DE CIGARRO AO CANTO DA BOCA. MAS NÃO SE REALIZA SEM DAR SATISFAÇÕES À IMPLACÁVEL ESTATÍSTICA, CUJOS ALARMES DISPARAM SE NÃO CUMPRIR OS DESÍGNIOS DA DITADURA DOS NÚMEROS
çA grande área, onde o espaço diminui e o tempo se esfuma, não tem segredos para ele. À medida que se aproxima de zonas de finalização Evanilson agiganta-se; nos terrenos militarizados, protegidos por especialistas despudorados, é mais hábil, preciso e veloz; a iminência do golo, que aumenta tensão e ansiedade, é o mote para baixar as pulsações e tomar decisões contundentes com a serenidade de um monge budista. É nessa altura que o seu futebol atinge a máxima dimensão, com processos lineares, intenções claras e soluções diversificadas.
O erro não o diminui e a desinspiração é interpretada como dado transitório, sinal de confiança ilimitada nas suas capacidades. Apontado como parceiro dileto de Taremi, elemento de uma dupla temível, a que mais eficácia promove entre os avançados do FC Porto nas últimas épocas, Evanilson não deve ser analisado isoladamente, porque a sua produção resulta do envol- vimento que a equipa conseguir para potenciar as suas melhores características – não é efeito sem causa, precisa dos outros para se expressar na plenitude. Sai a ganhar ao lado de um parceiro com quem divida os movimentos no eixo central (em profundidade) mas o rendimento não se ressente com apoios mais distantes, vindos de trás (Pepê) e das faixas laterais (Francisco Conceição e Galeno, mais João Mário e Wendell).
É um atacante multifuncional, que se realiza unindo as pontas do bordado da criação; dá seguimento a todas as solicitações, está sempre disponível para receber a bola e tem armas, técnicas e físicas, para dar seguimento às ações. É também um ótimo observador, com visão para se associar nos movimentos enleantes e participados nas suas costas, cujo objetivo é aproximar a equipa do fim da viagem. Entra nesse processo acumulativo de veneno no fim do qual, não raras vezes, lhe cabe a tarefa de descarregá-lo como epílogo da peça, isto é, com um último toque, mo- mento a que se convencionou chamar golo – na presente temporada já vai nos 16 em 23 jogos.
Aos 24 anos, revela o dom de acumular informação e antecipar o que vai suceder dois segundos à frente, cuja consequência é transformá-lo num tremendo gestor das situações que enfrenta. Nunca é apanhado de surpresa, nunca o jogo o coloca perante problemas para os quais não tenha soluções. A capacidade, aperfeiçoada com o tempo, para interpretar a função e os factos estende-se ao modo como avalia as fragilidades dos adversários, aproveitadas com o instinto felino próprio dos goleadores. Não perdoa uma desatenção, um erro, uma distração, mínima que seja. Se o defensor falha, lá está ele pronto a tirar partido com argumentos de homem de área: posicionamento, desmarcação e tiro fácil; instinto, inteligência e coragem.
Evanilson está longe de ser o cowboy distante vivendo da pontaria infalível; não é Lucky Luke, que entrou na lenda de cigarro ao canto da boca, como atirador displicente, pisar sinuoso, olhar distante e armas que o tornam invencível em todas as circunstâncias – este pistoleiro acrescenta suor à insolência. Mas também não se realiza em pleno se não responder perante a implacável estatística, cujos alarmes disparam se não cum- prir o mínimo exigível pela ditadura dos números, que põem a nu a ineficácia sempre penalizadora para os avançados.
É um guerreiro infiltrado em território inimigo, sem constrangimentos com as armadilhas espalhadas pelos caminhos que percorre; um avançado entre dois mundos complementares, nos quais pode ser flor e fruto; um criador que, depois, cobra direitos de autor; que satisfaz a inteligência lógica, adquirida pela rotina do treino, e a criativa que ele próprio adapta a cada instante.
É UM ATACANTE
MULTIFUNCIONAL, QUE SE REALIZA UNINDO AS PONTAS DO BORDADO DA CRIAÇÃO