A teimosia da ala coxa e mais opções discutíveis
Quais os pecados encarna- dos no afastamento da final da Taça da Liga?
Descontemos, desde logo, o eterno argumento da ineficácia, normalmente apontado como fatal, mas cuja referência, muitas vezes óbvia, esconde outros mais relevantes. O primeiro pecado do Benfica foi de atitude. A equipa entrou muito dócil, indiferente ao modo como o jogo estava a desenrolar-se e nem mesmo o golo sofrido alterou a disponibilidade dos jogadores para se revoltarem na procura de uma resposta firme às circunstâncias desfavoráveis.
O que diz a estatística de 16 (!) cantos a favor?
Que a equipa não tem argumentos para aproveitar esse e outros esquemas táticos. A insistência desses cruzamentos criou dois protagonistas: Di María, a tentar o golo olímpico, e João Neves (1,74m de jogador) a disputar bolas nas alturas. O Benfica não criou perigo dessa forma.
Como explicar, em plena busca da vitória, as substitui- ções terem incidido nas faixas laterais defensivas?
Não devemos colocar no mesmo plano as saídas de Aursnes e Morato. Muito menos as entradas de Tomás Araújo e Carreras. Com o espanhol, a equipa ganhou projeção, abriu por fim a via do lado esquerdo para ata- car a profundidade (é bom não esquecer que, em largura, o Benfica limita a dois terços o seu espaço ofensivo) e isso teve efeitos automáticos – Carreras demorou 2 minutos a criar um lance perigoso, conquistando a linha final. A ala coxa, apesar do esforço de Morato, é uma das teimosias do treinador.
E quanto à entrada de Tomás Araújo?
É incompreensível. Porque é um excelente jogador, o jovem central cumpre qualquer função mas, na exploração do flanco, Aursnes é mais hábil e tem mais soluções técnicas para encontrar espaços e criar desequilíbrios.
Que sentido fez a titularidade de Musa?
Musa não era titular desde 12 de novembro, no dérbi com o Sporting – há quase dois meses e meio. O seu regresso ao onze foi surpreendente, soou até a um prémio de despedida, tal a insistência das notícias que dão como provável a sua saída no mercado de janeiro. O croata não foi feliz, constituiu uma aposta falhada (acontece) mas a explicação final de Roger Schmidt foi enigmática. Jogou porque está em grande forma? Não o confirmou com o Estoril, mas se o tivesse feito teria reclamado a injustiça de doze jogos no banco.
Arthur Cabral entrou aos 90’+6. Fez algum sentido?
Só para marcar o pontapé de penálti no desempate, momento no qual o Estoril se revelou mais forte. Sem conhecimento do que foi a preparação do jogo, é de crer que os canarinhos estivessem muito melhor preparados e tenham trabalhado esse aspeto.
Como analisar a declaração de Schmidt de não ser vergonha perder com o Estoril?
Para já não perdeu. Depois foi uma liberdade linguística que não cai bem entre os adeptos. Logo, devia ter sido evitada.