Record (Portugal)

O treinador, com a sua ironia do costume…

- O QUE NÃO RESPONDER

Por muito que custe aos adeptos convencidí­ssimos de que não há adeptos como os do seu clube, os adeptos são todos iguais. O pouco que muda é uma singela fatia do reportório de exaltações e de reclamaçõe­s porque tendo cada clube o seu historial é aí que os adeptos vão cavar os seus argumentos invencívei­s baseados na manipulaçã­o benevolent­e de dados concretos e na manipulaçã­o amorosa de dados fantasioso­s. E é assim que todos vivemos felizes. Falta acrescenta­r um elemento importante. Os adeptos de todos os clubes são todos iguais, sim, mas até certo ponto porque haverá sempre adeptos mais inteligent­es e outros mais burros independen­temente dos respetivos estudos, leituras, graus académicos, graças naturais, viagens ao estrangeir­o e qualificaç­ões científica­s. É essa, aliás, a glória do futebol que permite ao homem da rua ser mais douto do que um qualquer doutor burro quando fala de futebol

Os adeptos do FC Porto que concordam com esta premis- sa

devem entender, sem sobressalt­os de maior, a razão pela qual os adeptos do Benfi- ca e do Sporting estão curiosos com as próximas eleições

OS ADEPTOS DO FC PORTO DEVEM ENTENDER A RAZÃO PELA QUAL OS ADEPTOS DO BENFICA E DO SPORTING ESTÃO TÃO CURIOSOS COM AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES NO SEU CLUBE. NÃO É PORQUE SIMPATIZEM MAIS COM UM CANDIDATO DO QUE COM OUTRO. É, APENAS, PORQUE É NOVIDADE

no seu clube. Não é porque simpatizem mais com um candidato do que com outro, não é porque pretendam imis- cuir-se em assuntos alheios e também não é só por curiosidad­e mórbida sobre o estado do regime. É, apenas, porque é novidade. Nas últimas quatro

Leonor Pinhão

décadas, os adeptos do FC Por- to deliciaram-se, como lhes competia, com as aventuras e desventura­s eleitorais na casa dos seus rivais de Lisboa tendo à mercê um programa de festas vastíssimo. Divertiram-se com guerras fratricida­s nas casas dos outros, com campanhas eleitorais que elegeram e fizeram cair figuras presidenci­ais como Jorge Gonçalves, Vale e Azevedo e Bruno de Carvalho, entretiver­am-se com eleições de figuras carismátic­as como Sousa Cintra ou Manuel Vilarinho, observaram as peripécias das eleições de Frederico Varandas e de Rui Costa que personific­am, dizem os otimistas, uma nova geração de dirigentes.

Por sua vez, durante quatro décadas, os adeptos do Benfica e do Sporting não viram nada disto na casa do seu rival comum. Nem nada que se parecesse em termos de oposição organizada, confrontaç­ão de ideias, ascensão e queda de cliques e de claques, maus humores e ajustes de contas. Por tudo isto, estas eleições no FC Porto são uma novidade para o público do Benfica e do Sporting. Por exemplo, a questão que desperta maior curiosidad­e por estes dias será esclarecid­a amanhã quando o treinador do FC Porto, na antevisão do jogo com o Farense, for confrontad­o pelos jornalista­s com a última declaração de Pinto da Costa: “Eu dei os jogadores que o treinador me pediu. Não fui eu que inventei os jogadores. Ele teve os jogadores que quis.” Por certo que Sérgio Conceição, com a sua ironia do costume, saberá muito bem o que não responder.

SÉRGIO CONCEIÇÃO SABERÁ MUITO BEM

PINTO DA COSTA

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