Ferros salvam ferrolho
NÃO FOI A ORGANIZAÇÃO DEFENSIVA CORIÁCEA COM QUE ARTUR JORGE DESCARACTERIZOU O ULTRA-OFENSIVO SC BRAGA QUE VALEU O PASSAPORTE PARA A FINAL DA TAÇA DA LIGA. ALÉM DOS FERROS E DE MATHEUS, QUE TRAVARAM O ELEVADO CAUDAL OFENSIVO DE UM SPORTING INEFICAZ, A PROATIVIDADE EM LANÇAR ABEL RUIZ REVELOU-SE DECISIVA
1 As derrotas diante do Benfica e do FC Porto, na primeira metade do mês de janeiro, que apartaram o SC Braga da Taça de Portugal e colocaram-no mais distante da luta pelos três lugares cimeiros da tabela, afetaram Artur Jorge. Na Luz e no Dragão, os guerreiros do Minho, à semelhança do que fizeram na grande maioria das partidas sob o seu comando, mantiveram-se fiéis ao modelo e a uma ideia de jogo marcadamente ofensivos, digladiando-se olhos nos olhos ante os seus rivais. O que condiz, apesar de ter valido desaires, com a imagem de um plantel com amplos recursos do meio-campo para a frente, como atestam os 71 golos apontados em 34 jogos oficiais.
2 A necessidade de não sair do exercício com as mãos vazias, assim como as amplas ardui- dades em abichar triunfos ante os grandes ao longo dos últimos dois exercícios, levaram Artur Jorge a produzir uma ampla mudança estratégica na abordagem à meia- -final da Taça da Liga. Diante do Sporting, o Braga posicionou-se num bloco médio-baixo com claras referências individuais, defen- dendo em 5x4x1, fruto do recuo de Vítor Carvalho para central-esquerdo, de forma a perseguir Edwards, e posicionando Paulo Oliveira como central pelo meio, encarregue, com pouco espaço nas suas costas, a forma como se sente mais cómodo, de travar Gyökeres. Mas não se ficou por aqui. Os laterais, normalmente com pendor ofensivo, fixaram-se na defesa do seu corredor e da lar- gura conferida por Esgaio (menos) e Nuno Santos (mais), enquanto que, no meio-campo, o médio de perfil mais ofensivo (por norma, Pizzi, com trocas com Zalazar e Ricardo Horta, utilizados a partir das alas) tinha por missão aproximar-se, em momento defensivo, de Moutinho, de forma a combaterem Hjulmand e Pote. Já o ataque ficou entregue a Djaló, referência móvel e veloz de uma construção longa que procurava atacar o espaço entre Esgaio e Quaresma ou entre Quaresma e Coates. Com efeitos praticamente nulos, diga-se.
3 A análise simplista do jogo que apenas se baseia no resultado, tão em voga no ludopédio indígena, teceu largos encómios ao plano estratégico urdido por Artur Jorge. Só que, na verda- de, o grande momento do técnico bracarense sucedeu ao minuto 60, quando rendeu Pizzi por Abel Ruiz. Uma referência ofensiva móvel que permitiu que os braca- renses finalmente respirassem com bola, estabelecessem ligações e chegassem, aproveitando um erro de Inácio, que assentiu que Djaló, Horta e Zalazar se conectassem de forma pungente, e um equívoco garrafal de Esgaio na defesa do segundo poste, ao tento da vantagem. E até ao fim, face ao desnorte dos leões na reação à desvantagem, até estivessem mais perto do 2-0. Mas os 65 minutos anteriores ao tento do triunfo tiveram o sentido único da baliza de Matheus, responsável, juntamente com o poste e com a barra, por travar uma avalanche ofensiva leonina, que perfurou, tanto por fora como por dentro, principalmente aproveitando as ligações entre Nuno Santos, Pote e Trincão entre a esquerda e o centro, a organização defensiva coriácea dos guerreiros. E não teria sido escândalo algum se o Sporting tivesse chegado ao intervalo a vencer por 2 ou 3 golos.
NÃO SERIA ESCANDALOSO QUE O SPORTING TIVESSE CHEGADO AO INTERVALO A VENCER POR 2 OU 3 GOLOS