Racismo e intolerância: da sociedade para o desporto
TODAS AS PROPOSTAS DE QUADRANTES POLÍTICOS RACISTAS, XENÓFOBOS E QUE ASSENTAM A SUA ESTRATÉGIA NO DIVISIONISMO E NA MENTIRA, DEVEM SER COMBATIDAS PELA SOCIEDADE E DESPORTO, A UMA SÓ VOZ
LOGRAMOS COMPETIR COM POTÊNCIAS MAIS CAPACITADAS DEVIDO À DIVERSIDADE CULTURAL
Uma das temáticas que mais interliga o que se passa na sociedade e o desporto é a discriminação racial e a xenofobia. A proposta do presidente da FIFA para sancionar com a derrota as equipas cujos adeptos promovam comportamentos racistas parece cada vez menos descabida perante o sentimento de impotência no combate ao fenómeno e a crescente intolerância que prolifera através da desinformação nas redes sociais. Aleada à falta de formação cívica dos jovens torna-se um autêntico barril de pólvora.
A legislação desportiva em matéria de prevenção e combate
a comportamentos racistas ou xenófobos, tal como no caso violência, dá-nos algumas ferramentas importantes que, no entanto, parecem sempre escassas na vastidão das manifestações de intolerância. Quero, por isso, dar o meu contributo, numa altura em que caminhamos para a eleição de um novo governo em Portugal, uti- lizando o futebol como um exemplo do papel inestimável que os muitos atletas vindos das mais diversas paragens dão para o desenvolvimento e valorização da modalidade e para a sua sustentabilidade, desde a base até ao topo da pirâmide. A diversidade cultural e promoção do talento fazem-nos competir com potências muito mais capacitadas finan- ceiramente. Os nossos jogadores vindos do Brasil, dos Palop ou dos mais diversos lugares do mundo fazem parte integrante da nossa cultura desportiva e cada ato racista ou xe- nófobo é um ataque a esse legado. Dito isto, quaisquer propostas de quadrantes políticos racistas, xenófobos e que assentam a sua estratégia no divisionismo e na mentira, devem ser combatidas pela sociedade e pelo desporto, a uma só voz.
Aproveito também a ocasião para manifestar a minha preocupação
com a forma como o nosso país continua a não saber acolher devidamente a emigração de que tanto precisa, nem defender eficazmente as vítimas de abandono, exploração e tráfico. Tenho conhecimento de que a transição do SEF para a AIMA deixou algumas investigações criminais no futebol em suspenso, com os inspetores dedicados às diligências em curso a serem integrados noutras funções, com muita incerteza quanto aos próximos passos. Num país com pouca celeridade na Justiça trata-se de uma situação preocupante e que exige uma resposta rápida dos decisores políticos.
Termino com uma homenagem à equipa do Benfica
apurada pela primeira vez na história para os quartos de final da Champions Feminina. Mais um passo que demonstra que o futebol feminino só terá as barreiras que lhe quisermos impor e um convite a que mais equipas invistam na modalidade.
Finalmente, no momento em que escrevo
ainda não é conhecido o vencedor da Taça da Liga. Deixo, por isso, ao Sp. Braga e ao Estoril os parabéns pelo percurso, duas equipas que têm feito um extraordinário trabalho desde a formação e merecem todo o sucesso.