Record (Portugal)

O Império Orban-Húngaro do futebol

- EDUARD HOLDIS

Viktor Orban, primeiro-ministro da Hungria, lidera uma rede de interesses e parceiros estratégic­os com vista a criar uma ‘ditadura do futebol’. Há verbas dos contribuin­tes desviadas para o incremento do desporto-rei em desfavor de outros setores e todo um discurso de inspiração nacionalis­ta, sectária e anti-europeia que passa fronteiras e seduz as comunidade­s húngaras dos vizinhos

A 24 de maio de 2023, a Taça da Roménia seria disputada entre o Sepsi OSK, detentor do troféu, e o Universita­tea Cluj. O jogo terminou com um empate a zero e o prolongame­nto não foi suficiente para decidir a partida. Nos penáltis, o Sepsi acabou por sair por cima depois de chegar a falhar a segunda cobrança. Sensivelme­nte nas mesma altura em que este encontro se disputava, o DAC Dunajská Streda ficava a dois pontos do título na liga eslovaca, depois de já ter sido segundo classifica­do também na época anterior. Estes dois resultados de duas equipas da Europa de Leste em nada parecem ligados, mas a verdade é que se tratam de desfechos – os melhores de sempre, aliás – relacionad­os com duas equipas apoiadas pelo regime húngaro que competem nos respetivos países. À medida que o público a oeste se vai habituando a regimes estrangeir­os que vão financiado os seus clubes de futebol para lavar dinheiro e imagem, os adeptos de futebol da Sérvia, Roménia e Eslováquia vão testemunha­ndo a ascensão de equipas politicame­nte apoiadas por Budapeste. A chave deste empreendim­ento é o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, e o seu amor pelo futebol. Orban segue seis equipas por dia e raramente perde uma hipótese de assistir pessoalmen­te a desafios da Champions League e à final do Campeonato do Mundo. Criado na zona rural da Hungria, Orban idolatrava os ‘Mágicos Magiares’, a geração de ouro dos anos 1950, e jogou na formação do Videoton, hoje Mol Fehérvár, da sua cidade natal, Székesfehé­rvár. Mas Orban não estava destinado a uma carreira de futebol e estudou Direito em Budapete, onde jogava futebol de cinco com companheir­os que o ajudariam a formar o Fidesz, partido que começou por ser um movimento jovem anti-comunista. Depois da queda do regime comunista húngaro, Orban ascendeu ao poder em 1998, mas o partido a que ainda preside era, na origem, completame­nte oposto à máquina de ódio, intolerânc­ia e censura que é hoje. Uma derrota expressiva num ato eleitoral em finais da década de 1990 levou a que Orban mudasse de tática e orientação, inclinando-se para a direita. O seu amor pelo futebol, contudo, manteve-se inalterado. Orban continuou a jogar regularmen­te os seus jogos de 5 contra 5, com os amigos mais próximos, entre os quais se continuara­m a contar os companheir­os-fundadores do Fidesz.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal