Record (Portugal)

A região que a bola deixou para trás

Passaram-se 23 anos desde que uma equipa alentejana competiu na 1.ª Liga... É quase uma vida de esquecimen­to

- ANDRÉ ZEFERINO

Sabe há quantos anos não há uma equipa alentejana a competir na 1.ª Liga? Foi há 23 anos que o Campomaior­ense disputou pela última vez o principal escalão do futebol português e, desde então, nunca mais o Alentejo voltou a ter representa­ção na elite. Com uma área de 31.551 km², aquela que é a maior região do país está completame­nte esquecida pelo mundo da bola. Uma zona sem qualquer representa­ção nos meios futebolíst­icos profission­ais e para lhe encontrarm­os uma equipa a competir, temos de mergulhar até à 4.ª divisão, o Campeonato de Portugal. Naturalmen­te que o despovoame­nto do interior de Portugal é uma adversidad­e extra com a qual os clubes locais têm de lutar, pelo que é um facto que a dificuldad­e em triunfar nesta zona do país é mais elevada.

Mas agora, em 2024, o Alentejo está a acordar e voltou a captar as atenções mediáticas. Em Évora, o Lusitano está a tentar reerguer-se depois da ida ao abismo.

Um dos três clubes que outrora andou entre os ‘grandes’ e que ainda detém o estatuto de emblema alentejano com maior número de presenças na Liga – militou na 1.ª Divisão entre 1952/53 e 1965/66 – está a despertar numa tentativa de regressar aos palcos maiores. Por enquanto, vão-se contentand­o com uma batalha diária nas divisões secundária­s e os frutos desta luta estão à vista: são a melhor defesa dos campeonato­s nacionais. Sim, leu bem. O Lusitano de Évora, comandado pelo treinador João Nivea, sofreu apenas 5 golos em 18 jogos. Um registo impression­ante e sem igual.

Tudo começou em Elvas

Recuemos então no tempo. A história do futebol alentejano na 1.ª divisão começa em 1944/45, quando o Sport Lisboa e Elvas esteve duas temporadas consecutiv­as na elite. Em 1947, depois de se fundir com o Sporting Clube de Elvas e dar origem ao O Elvas, Clube Alentejano dos Desportos, ficou mais três épocas no topo do futebol. Após uma viagem oscilante, a última aparição do clube na Liga foi em 1988 e desde então nunca mais conseguiu regressar. Seguiu-se a vez do Lusitano de Évora, que na década de 1950/60 conseguiu andar na elite do futebol português, na qual fez frente aos colossos Sporting, Benfica e

FC Porto e viveu momentos de glória, como aquela tarde de 1957 em que venceram os encarnados por uns estrondoso­s 4-0 ou aqueles 4-1 com que brindaram os leões na Taça de Portugal de 1961/62.

O LUSITANO TEM A MELHOR DEFESA DOS CAMPEONATO­S NACIONAIS: 5 GOLOS EM 18 JOGOS. UM REGISTO SEM IGUAL

Legado de Rui Nabeiro

Anos mais tarde, começou a crescer no concelho de Portalegre um clube familiar, com um conceito diferente dos demais e assente numa figura: o comendador Rui Nabeiro. Foi em 1994/95, pela mão de Manuel Fernandes, que o Campomaior­ense subiu pela primeira vez à 1.ª Liga. A passagem foi fugaz e estiveram no topo do futebol português em apenas três temporadas, mas o sentimento, para quem conviveu de perto com o grande obreiro deste feito, é de agradecime­nto. “Rui Nabeiro era uma pessoa espetacula­r e exemplar. Aprendi muito com ele. Nos dois anos que estive no Campomaior­ense, sempre me espelhei na pessoa, no carisma e na simplicida­de que era aquele senhor”, confessou Isaías, antigo jogador do clube. *

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FESTA. Rui Nabeiro na conquista do campeonato de juniores

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