Nunca caminhará sozinho
O técnico mais atrevido, estimulante e adorável do sec. XXI decidiu que a sua ligação ao Liverpool caduca no final da época, dois anos antes do termo contratual. Ao contrário de Xavi, Jürgen Klopp não paga a factura dos maus resultados: os ‘reds’ lideram a Premier League e seguem bem colocados nas restantes provas, incluindo a Liga Europa. Klopp precisou de um terço do investimento do City de Guardiola (que reconheceu Klopp como o rival mais difícil de sempre) para converter numa equipa competitiva um Liverpool que não ganhava nada desde 1990. Conquistou sete títulos, incluindo a Premier de 2019/20 e a Champions de 2018/19, chegando ainda a mais duas finais da ‘orelhuda’. Ganhou o lugar ao lado de Shankly, Paisley e Dalglish, figuras capitais em momentos diferentes na opulenta história do Liverpool. Num clube dotado de singularidade sentimental e memoriosa, conectou como ninguém com os adeptos, criando um ideário hercúleo e sempre atacante. Devolveu o peso perdido a um Liverpool que passou a desafiar a hegemonia do City, como antes havia feito no Dortmund perante o B. Munique.
Já quis sair na época passada, após o sexto lugar na Premier, mas agora diz que consumiu toda a sua vitalidade no futebol inglês (vai na nona época) e que precisa de um ano sabático, na certeza de que nunca treinará outro inglês que não o Liverpool. É um treinador de paixões e não foi por acaso que ficou sete anos no Mainz e outros tantos no Dortmund. Os adeptos lacrimejaram a sua saída já na goleada sobre o Norwich, em que o “You’ll never walk alone” serviu de hino para assinalar o início do adeus a um treinador sedutor e orgulhoso do seu carácter ‘heavy metal’. E também de homem íntegro que se assume “de esquerdas”, incapaz de ter seguro médico privado ou de “votar em quem promete baixar os impostos aos mais ricos”.