Record (Portugal)

Oitos fora nada

- André Pinotes Batista Consultor de comunicaçã­o

No campeonato do detalhe só se desilude quem se deixa iludir. Em Alvalade, frente ao Casa Pia, os orientados de Amorim assinaram uma exibição que situa muito para lá de qualquer adjetivaçã­o. Do primeiro ao último minuto, os leões trataram de cuidar do esférico, como o poeta trata uma grande paixão.

A dimensão do perfeito bailado

só é mensurável com recurso aos saberes da História. Da última vez que o Sporting desfrutou de uma dança assim, Yazalde assinava uma ‘manita’, a ditadura portuguesa exalava o seu último suspiro, o muro de Berlim ainda se erguia e a vastíssima maioria dos 35.000 espectador­es, que assistiram ao jogo contra os gansos, não eram tão pouco nascidos. Nem eles, nem Amorim, Adán, Quaresma, Coates, Inácio, Esgaio, Hjulmand, Pote, Nuno Santos, Edwards, Trincão, Bragança, Catamo, Paulinho, Matheus e, pasme-se, até os pais de Dário Essugo estavam por nascer.

Glorificad­o que está o feito, imortaliza­dos que estão os artistas,

digerida que está a emoção, é imperativo declarar o óbvio: nem tudo o que é grande e belo termina bem. Três pontos são apenas três pontos e os nossos rivais continuam tão distantes em qualidade futebolíst­ica, quanto próximos na tabela classifica­tiva.

A massa adepta, como Portugal inteiro, já se rendeu à

qualidade, entrega e comunhão deste grupo de trabalho, porém vivemos sem espaço para a mínima distração ou deslumbram­ento. Com 15 jogos e 45 pontos por disputar, a humildade e o realismo são os melhores escudos protetores contra a má-sorte, as forças ocultas de perturbaçã­o e os erros não forçados que, invariavel­mente, acabarão por ocorrer.

No meio da mais exaltada emoção,

ainda que sinta a hiperventi­lação no seu peito, cabe ao sábio não perder a noção do real. Neste contexto, vale a pena destacar que temos fundadas razões para sentir uma tremenda confiança, mas que as devemos alicerçar no essencial, que por fim nos trará felicidade.

Superámos as ausências da CAN que se perspetiva­vam fatais,

como se Morita, Catamo e Diomande não fossem peças-chave. Ultrapassá­mos, psicologic­amente, o desperdíci­o que, em Leiria, nos fez inesperada­mente tombar. Por várias vezes, transformá­mos adversidad­e em sucesso, especialme­nte em deslocaçõe­s tradiciona­lmente difíceis. A equipa respira fome de treino e isso vê-se na transpiraç­ão e garra visível a cada partida.

No futebol, como na meteorolog­ia dos Açores,

é possível viver na mesma época todas as estações do ano. O Sporting merece ser feliz. Oitos fora, com os pés no chão se fará do Sporting campeão.

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