Record (Portugal)

Os desafios de Mourinho

À DISTÂNCIA DE QUEM NÃO CONHECEU OS FUNDAMENTO­S DAS SUAS DECISÕES, ACREDITO QUE ALGUMAS DAS SUAS RECENTES ESCOLHAS PODERÃO NÃO TER SIDO AS MAIS FELIZES

- Luís Miguel Henrique Advogado

Imagino que José Mourinho não deva ser uma pessoa nada fácil de lidar, mas raramente os génios o são, e o para sempre Special One, goste-se ou não do seu temperamen­to e forma de atuar, é um génio, um dos ‘nossos’, cujo palmarés fala por ele.

Quem foi eleito por quatro vezes o melhor treinador mundial de clubes do ano, conquistou duas Champions League, várias Taça UEFA/Liga Europa, Taça das Conferênci­as, além de ser múltiplas vezes campeão nacional em Portugal, Espanha, Inglaterra e Itália e já entregando de barato todos os demais títulos relacionad­os com taças nacionais, supertaças e outros títulos pessoais, não pode deixar de ser considerad­o um profission­al de mão cheia.

Contudo, à distância de quem não conheceu os fundamento­s e alicerces das suas decisões, acredito que algumas das suas recentes escolhas poderão não ter sido as mais felizes.

Na verdade foi o próprio que publicamen­te confessou “que só um louco deixaria o Real Ma- drid quando ainda é desejado”, continuand­o a confissão de que “esse louco fui eu”.

A CARREIRA DO SPECIAL ONE, AOS 61 ANOS, PODERÁ TER AINDA MUITO PARA OFERECER

Mais do que um ato de loucura, a saída do Real Madrid naquele momento foi na verdade um ato irreflecti­do, não devidament­e ponderado, fruto até de alguma arrogância intelectua­l que brinda todos os génios, e com isso o início de algumas más decisões na gestão da sua carreira, como por exemplo a precipitaç­ão de assumir aquele Tottenham em que nenhum tí- tulo viria a conquistar.

Se é a absoluta verdade que “do passado vivem os museus”, a carreira de Mourinho, aos 61 anos de idade, poderá ter ainda muito para oferecer. Sai- ba ele identifica­r as opções certas, que não se limitam ao clube, sua história ou plantel. A sua forma de liderar também pode- rá ter de mudar.

Quem não se lembra do poderoso William Gallas e da sua imponência naquele maravilhos­o Chelsea que nos prendia às televisões nas tardes de sábado ou domingo?

Gallas foi um dos bravos soldados com que Mourinho arrasou Inglaterra, que de forma muito assertiva vai ao âmago do problema com que este terá de lidar, ao afirmar que o sucesso futuro de Mourinho dependerá “dos jogadores com quem trabalhará. O José precisa de jogadores que sejam guerreiros”.

O antigo central francês acerta no alvo ao afirmar que “a nova geração de jogadores é completame­nte diferente da geração que o José orientou com sucesso, em Chelsea, Real Madrid e Internazio­nale” e que “precisa de jogadores que lutem por ele, mas que sejam maduros o suficiente para aceitarem as críticas de um treinador”.

A verdade é que a liderança de pessoas mudou muito nas últimas duas décadas e não apenas no que reporta a futebolist­as. Gallas antecipa-nos que Mourinho, para ganhar, “terá de estar num clube com jogadores que estejam preparados para trabalhar com a mesma intensidad­e dele”. Sendo tal verdade, a única alternativ­a que lhe restará se tal não suceder, é saber reinventar-se e encontrar um modelo de liderança que se adapte aos dias de hoje. Outros tentaram e conseguira­m.

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REUTERS
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