Guarda pretoriana de lixo
ESTA OPERAÇÃO É MAIS UM MOMENTO DE PROVA PÚBLICA DE QUE O FC PORTO ESTÁ ENTREGUE A UM GRUPO QUE COLOCA OS SEUS INTERESSES PESSOAIS À FRENTE DOS DO CLUBE
çOs factos são simples de enumerar. Quando André Villas-Boas admitiu, vagamente, que poderia ser candidato contra Pinto da Costa, começaram a acontecer coisas estranhas com o seu nome e a sua vida. Uma encomenda de haxixe enviada para o Brasil, pasme-se, tinha a morada do antigo treinador portista no remetente.
Depois, quando se confirmou que avançava mesmo para as eleições,
a sua casa foi vandalizada, o seu segurança foi agredido, a tentativa de condicionar a sua autonomia e mobilidade pelo Porto foi óbvia. Como se estivéssemos em Nápoles e nos fosse decretada pela Camorra a proibição de circular pelo Bairro Espanhol ou Chiaia, espaços nobres da cidade, longe do lúmpen de Scampia e Secondigliano.
Por fim, rebentou o terramoto da Assembleia Geral
quando se tornou evidente que Villas-Boas, caso ganhe as eleições, tomará medidas que atingem os interesses instalados no clube e as suas fontes de rendimento. Levar transparência ao fluxo de dinheiro das transferências, pondo em causa o comissionismo reinante, e acabar com o negócio dos bilhetes dos Super Dragões, foi, por fim, tocar no ninho dos escorpiões.
O quadro geral do que se passou é de tal modo grave
que ree- ditou velhos fantasmas. Sobretudo os do ‘Apito Dourado’ e da célebre deslocação de Pinto da Costa ao tribunal de Gondomar, rodeado pela guarda pretoriana da época.
Aquela guarda pretoriana de lixo, com os assassinos presos no processo ‘Noite Branca’ à cabeça, viria a ser travada mais tar- de nesta investigação. Mas a semente do Mal ficou. A forma como o ‘Apito Dourado’ foi ‘descontinuado’, com um golpe de estado na própria Polícia Judiciária, para afastar os dois coordenadores dessa investigação, abriu um ciclo de impunidade que deu todo o poder à macacada. O destino de Pinto da Costa já estava unido ao da claque e dos seus chefes. Daí em diante ficaram laços indestrutíveis de ir- mandade.
Agora, a ‘Operação Pretoriano’ é mais um momento de prova pública
de que o FCPorto está entregue a um grupo que coloca os seus interesses pessoais à frente dos do clube. Não se trata apenas de pôr na ordem um bando de desordeiros. Trata-se de desmontar uma verdadeira central de crime, salvar um clube essencial para o futebol português, limpar as ruas do Porto, defender a lei e a participação cívica na vida colectiva. Sporting e Benfica também deixaram medrar o poder criminoso em torno das claques. O Sporting teve a felicidade de ver um pirómano a incendiar-se a si próprio antes de destruir o clube. O Benfica passou pela vergonha de ver a justiça a ter de limpar a casa, quando prendeu a maior parte de uma das suas claques. No Porto, trata-se de outra coisa. Defender o Estado de Direito e travar um poder que é, como já várias vezes escrevi, de natureza mafiosa.