Record (Portugal)

Guarda pretoriana de lixo

ESTA OPERAÇÃO É MAIS UM MOMENTO DE PROVA PÚBLICA DE QUE O FC PORTO ESTÁ ENTREGUE A UM GRUPO QUE COLOCA OS SEUS INTERESSES PESSOAIS À FRENTE DOS DO CLUBE

- Eduardo Dâmaso Diretor Geral Editorial Adjunto do CM/CMTV

çOs factos são simples de enumerar. Quando André Villas-Boas admitiu, vagamente, que poderia ser candidato contra Pinto da Costa, começaram a acontecer coisas estranhas com o seu nome e a sua vida. Uma encomenda de haxixe enviada para o Brasil, pasme-se, tinha a morada do antigo treinador portista no remetente.

Depois, quando se confirmou que avançava mesmo para as eleições,

a sua casa foi vandalizad­a, o seu segurança foi agredido, a tentativa de condiciona­r a sua autonomia e mobilidade pelo Porto foi óbvia. Como se estivéssem­os em Nápoles e nos fosse decretada pela Camorra a proibição de circular pelo Bairro Espanhol ou Chiaia, espaços nobres da cidade, longe do lúmpen de Scampia e Secondigli­ano.

Por fim, rebentou o terramoto da Assembleia Geral

quando se tornou evidente que Villas-Boas, caso ganhe as eleições, tomará medidas que atingem os interesses instalados no clube e as suas fontes de rendimento. Levar transparên­cia ao fluxo de dinheiro das transferên­cias, pondo em causa o comissioni­smo reinante, e acabar com o negócio dos bilhetes dos Super Dragões, foi, por fim, tocar no ninho dos escorpiões.

O quadro geral do que se passou é de tal modo grave

que ree- ditou velhos fantasmas. Sobretudo os do ‘Apito Dourado’ e da célebre deslocação de Pinto da Costa ao tribunal de Gondomar, rodeado pela guarda pretoriana da época.

Aquela guarda pretoriana de lixo, com os assassinos presos no processo ‘Noite Branca’ à cabeça, viria a ser travada mais tar- de nesta investigaç­ão. Mas a semente do Mal ficou. A forma como o ‘Apito Dourado’ foi ‘descontinu­ado’, com um golpe de estado na própria Polícia Judiciária, para afastar os dois coordenado­res dessa investigaç­ão, abriu um ciclo de impunidade que deu todo o poder à macacada. O destino de Pinto da Costa já estava unido ao da claque e dos seus chefes. Daí em diante ficaram laços indestrutí­veis de ir- mandade.

Agora, a ‘Operação Pretoriano’ é mais um momento de prova pública

de que o FCPorto está entregue a um grupo que coloca os seus interesses pessoais à frente dos do clube. Não se trata apenas de pôr na ordem um bando de desordeiro­s. Trata-se de desmontar uma verdadeira central de crime, salvar um clube essencial para o futebol português, limpar as ruas do Porto, defender a lei e a participaç­ão cívica na vida colectiva. Sporting e Benfica também deixaram medrar o poder criminoso em torno das claques. O Sporting teve a felicidade de ver um pirómano a incendiar-se a si próprio antes de destruir o clube. O Benfica passou pela vergonha de ver a justiça a ter de limpar a casa, quando prendeu a maior parte de uma das suas claques. No Porto, trata-se de outra coisa. Defender o Estado de Direito e travar um poder que é, como já várias vezes escrevi, de natureza mafiosa.

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