FUTEBOL SEMLEI
Greve das forças policiais lançou confusão total em Famalicão e Liga acusa-as de trocar a paz pública por lutas extradesporto
Era um desastre à beira de acontecer, que acabou – mesmo – por acontecer. Inconformados com a falta de soluções para as reivindicações sobre os subsídios de risco que querem equiparados aos da Polícia Judiciária, a Polícia de Segurança Pública (PSP) e a Guarda Nacional Republicana (GNR) promoveram ontem uma greve-surpresa em Famalicão que acabou por adiar, para data a definir (ver ao lado), o jogo da jornada 20 entre os locais e o líder do campeonato, o Sporting.
E tudo se passou numa aparente mas concertada surdina, cujo primeiro sinal foi dado quando, a menos de uma hora do apito inicial, marcado para as 18h00, as portas do Estádio Municipal ainda se encontravam fechadas, sem possibilidade de escoar, para as respetivas bancadas, os milhares de adeptos que formavam longas filas e se desdobravam em protestos, neste caso com os assistentes de recinto. Estupefactos, mas percebendo onde tudo poderia acabar, os protagonistas foram aparecendo fora dos balneários, os jogadores ainda se equiparam para aquecer e viram a Liga, pelas 17h30, adiar o arranque do encontro para as 19h00, garantindo ser totalmente alheia ao que estava a acontecer, até porque pelas 16h30, na habitual reunião de segurança, sabe Record, os trâmites decorreram com absoluta normalidade.
O contingente mínimo previsto era de 100 agentes, mas muitos – relatam-se 13 – apresentaram baixas médicas de última hora e não se apresentaram ao serviço, obrigando à tentativa de reforçar os recursos com unidades vindas diretamente do TIC, sediado na cidade do Porto, onde se está a dirimir a Operação Pretoriano, mas sem que houvesse número suficiente.
Tensão espelhada nos rostos
Passaram as 19h00 e os rostos dos presidentes Frederico Varandas e Miguel Ribeiro espelhavam um ambiente de cada vez maior tensão, mas sobretudo o semblante do técnico Rúben Amorim, dos mais agitados já no lusco-fusco do Minho. Incomodado com as ocorrências, o timoneiro leonino deixou, contudo, as decisões finais nas mãos dos decisores, que em consonância com o delegado da Liga e o comandante da PSP chegaram à conclusão que não existiam condições para jogar à bola – nem ontem ou hoje, dado que também pairou a informação de que o duelo se poderia iniciar às 11h00 deste domingo.
Atirou-se... e com força!
Ao início da noite, e após concertação com os clubes envolvidos, a Liga Portugal deixou, no seu site, duras críticas às forças de segurança, confirmando tudo o que relatámos neste texto, acusando-as de colocar em causa “a paz pública e a integridade física dos milhares de adeptos que aguardavam a entrada no recinto”, mostrando, ainda, “total desrespeito por todos aqueles que, alguns percorrendo centenas de quilómetros, se deslocaram ao recinto desportivo”.
Nem o Ministério da Administração Interna (MAI) escapou às críticas do organismo, pedindo-se um inquérito urgente ao ocorrido. Record contactou de imediato o MAI em busca de resposta, que chegou apenas mais tarde, confirmando abertura de diligências (ver apoio à direita). “A Liga Portugal exige ao Governo, em especial ao ministro da Administração Interna, a instauração de um processo de inquérito com caráter de urgência, de forma a apurar responsabilidades
BAIXAS MÉDICAS APRESENTADAS REDUZIRAM TOTAL DE AGENTES. TENTOU-SE REFORÇO VIA PORTO, MAS VERIFICOU-SE... POUCO
pelo sucedido, em defesa dos adeptos e das famílias, e informa que exigirá também, nas instâncias próprias, ser ressarcida pelos danos provocados por ações irresponsáveis às quais é totalmente alheia”, podia ler-se.
Malas feitas... rumo a Lisboa
No fim, restou ao Famalicão fazer um pequeno treino no seu relvado, enquanto o Sporting arrumou as malas e fez mais de 350 quilómetros até Lisboa, aterrando em Alvalade ao final da noite, onde os jogadores pegaram nos carros e foram até casa. Hoje há treino em Alcochete...*