Record (Portugal)

“ESTE ANO HÁ MUITO MAIS INVESTIMEN­TO”

O Al Nassr também tem portuguese­s no basquetebo­l. A modalidade cresce na Arábia e promete dar o ‘salto’ muito em breve. Uma realidade contada pelo treinador da equipa de Riade

- JOÃO SOCORRO VIEGAS

Como se deu o convite para rumar ao Al Nassr?

VASCO CURADO - Foi no início de setembro. No ano passado estava na Tunísia, no Club Africain, e os responsáve­is do Al Nassr ligaram-me, convidando-me para vir aqui para a Arábia. Eles já seguiam o meu trabalho porque o team manager é tunisino e está atento ao campeonato do país dele. E no ano passado o Club Africain esteve num torneio no Dubai, com clubes desta zona, e a nossa equipa esteve bastante bem, o que chamou a atenção do Al Nassr,.

Foi fácil chegarem a acordo?

N - Sim. Eles têm mais poder económico do que os clubes da Tunísia e o objetivo é lutar por títulos, portanto chamou-me a atenção.

O que lhe pediram a nível desportivo?

N - Estar na luta pelos troféus. O campeonato aqui foge um pouco à regra pois decide-se o campeão logo na fase regular, não há playoff. Depois existe uma taça e ainda uma outra prova, essa em sistema playoff, para a qual se apuram os quatro primeiros. No campeonato são 12 equipas e decide-se em 22 jornadas.

Que balanço faz desta experiênci­a?

N - Em termos desportivo­s está a correr bem, não espetacula­r mas bem. Estamos em primeiro empatados com outra equipa, o Al Ittihad, ambos com duas derrotas e depois há mais duas equipas com três derrotas, o Al Hilal e o Al Ahli. Basicament­e é como no futebol, há os quatro grandes. No basquetebo­l ainda existe uma

“ESTAMOS EM PRIMEIRO NA LIGA, AO LADO DO AL ITTIHAD. DEPOIS VÊM HILAL E AHLI. É COMO NO FUTEBOL, HÁ OS 4 GRANDES.

equipa histórica que investe bastante, o Ohod, que é quem tem mais títulos. Mas estão atrasados na disputa esta temporada. Aqui cada jogo é muito importante.

Esses quatro são os principais por causa do Fundo Público de Investimen­to Saudita?

N - Este ano há muito mais investimen­to. O Al Ittihad apostou muito mais depois do 5º lugar da época passada. Há o Domingos (Soares) Oliveira no Al Ittihad e tem uma equipa com 15 italianos a trabalhar no clube. Aqui pedem-nos para ganhar o campeonato,

dão apoio mas não fizeram nenhuma mudança de estrutura como no futebol. A mentalidad­e é muito diferente da europeia. No Al Nassr só temos dois jogadores sauditas verdadeira­mente profission­ais, os outros têm outras ocupações, sendo que a maior parte é militar e há um professor. Há ainda algumas coisas a fazer a nível de mentalidad­es e profission­alismo e é isso que esta nova equipa dirigente quer fazer, depois de o ter conseguido no futebol. No futebol, por exemplo, só treinavam à tarde. Agora já tomam pequeno-almoço e almoço em equipa para controlo da alimentaçã­o. No basquetebo­l, voleibol e futsal, as outras modalidade­s grandes que temos, ainda não. A mentalidad­e ainda é algo amadora.

Como é a constituiç­ão do plantel do Al Nassr?

N - Podemos ter três estrangeir­os mas só dois em campo. Quanto entra um terceiro, um dos outros

dois tem de sair. São os três americanos.

Como é o nível da liga saudita, em geral?

N - Nas melhores equipas o nível é bom, mas não há muitos jogadores de qualidade. A equipa nacional da Arábia Saudita pode escolher de entre um lote de 15 a 18. A partir daí o nível técnico-tático é muito baixo.

E os americanos elevam o nível?

N - São absolutame­nte essenciais para elevar o nível do jogo e tenho sorte com os meus. Além de serem bons jogadores, trabalham bem e aceitam mais ou menos bem algumas faltas de esforço dos sauditas. Mas isto apenas em treino. Quando vamos para os jogos, os sauditas dão 100%, lutam e dão tudo para ganhar. Nada a apontar. Mas no dia a dia têm alguma dificuldad­e em manterem-se focados e treinarem a 100%, é só o que falta. Até porque, não sendo profission­ais, os melhores jogadores têm muito bons ordenados. O Al Hilal tem um jogador que aufere cerca de 300 mil dólares por ano, salário médio na Euroliga.

Então a ideia será, talvez na

próxima época, profission­alizar em toda a linha?

N - Acho que sim. Há alguns rumores de que vão investir, não tanto como fizeram no futebol – não é possível ir buscar jogadores à NBA – mas é possível investir mais. Mesmo a nível asiático, a Arábia Saudita não consegue lutar com as melhores seleções.

Como são as deslocaçõe­s para as outras cidades nos jogos?

N - Temos de ir sempre, no mínimo, no dia anterior, pois são sempre

viagens de avião. O país é enorme e depois voltamos no mesmo dia, a não ser que seja tarde. Ainda assim, o calendário não é tão denso como na Europa. Mas para Tabuk, perto da Jordânia, são duas horas de avião.

Os salários, de um modo geral, são elevados entre os atletas?

N - Falei daquele jogador mas há outros, num nível mais abaixo, que têm muito bons salários, ao nível dos 150/200 mil dólares por ano. Os internacio­nais estão neste patamar, depois há uma grande décalage. A Arábia está numa transforma­ção brutal e parte dessa transforma­ção é ter boas equipas. Além dos quatro principais podem aparecer mais.

E no seu caso?

N - Foi superior mas nada do outro Mundo. Em Portugal e na Europa seria considerad­o um salário normal para um treinador médio. Pagam muito mais aos jogadores do que aos treinadore­s.

“SÓ TEMOS DOIS JOGADORES SAUDITAS VERDADEIRA­MENTE PROFISSION­AIS. O RESTO SÃO MILITARES E HÁ UM PROFESSOR”

 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal