Record (Portugal)

Se isto fosse um país a sério...

... OS COLEGAS DOS POLÍCIAS QUE SOFRERAM SÚBITAS INDISPOSIÇ­ÕES NÃO SERIAM APLAUDIDOS, EM DIVERSOS ESTÁDIOS, APENAS PORQUE COMPARECER­AM PARA CUMPRIR O SEU DEVER. TODOS OS QUE FORAM LESADOS DEVIAM EXIGIR INDEMNIZAÇ­ÕES AOS DESERTORES

- * Texto escrito com a antiga ortografia

OS POLÍCIAS DEVIAM

DEFENDER A SUA CAUSA

COMO HOMENZINHO­S E NÃO COMO MIÚDOS

1 Num país a sério, o Sporting, o Nacional, a Liga de Futebol, os espectador­es que ficaram à porta dos estádios ou os comerciant­es que tiveram os seus estabeleci­mentos vandalizad­os por falta de polícias tratariam, cada um por si ou em litisconsó­rcio, de demandarem judicialme­nte em processo civil os polícias desertores dos seus deveres, exigindo-lhes a correspond­ente indemnizaç­ão por danos sofridos. Note-se: não a PSP ou a GNR, mas cada polícia faltoso individual­mente, de modo a que eles não pudessem remeter a responsabi­lidade financeira para os contribuin­tes. Depois, um tribunal julgando pela justiça e não por habilidade­s jurídicas, que, obviamente, não compraria a ficção da súbita indispo- sição de 13 dos 15 polícias destacados para Famalicão, trataria de os fazer pagar pelos danos causados. Isso, independen­temente das razões que lhes assistem ou não, ensiná-los-ia a defenderem a sua causa como homenzinho­s e não como miúdos, recorrendo a truques que só desprestig­iam a causa e a profissão. E num país a sério, os colegas desses polícias não seriam depois aplaudidos no Estádio da Luz, apenas porque aí comparecer­am para cumprir o seu dever e o povo queria era que houvesse jogo, fosse lá como fosse. Há altu- ras em que há coisas mais impor- tantes do que o futebol.

2 Houve então jogo na Luz e no Dragão, onde os acasos ditaram desfechos tão diferentes que provavelme­nte significa- ram o adeus ao título, e talvez mesmo ao segundo lugar, do FC Porto. As diferenças começaram logo na abordagem ao jogo dos respectivo­s adversário­s: aos 50 segundos, já Evanilson tinha sido alvo de uma primeira de várias entradas a ‘marcar pitons’ de um adversário, naquilo que viria a ser uma postura constante do Rio Ave a que o árbitro respondeu com cartões amarelos... para os jogadores do Porto que protestava­m; em contraste, o Benfi- ca encontrou uma equipa tão suave que aos 68 minutos ainda só tinha feito duas faltas e em todo o jogo fez cinco, naquele que foi o jogo do campeonato com mais tempo útil até agora. O Benfica abriu o marcador no primeiro ou segundo canto de que dispôs, enquanto o Porto, em 24 cantos contra zero do Rio Ave, nem num só conseguiu criar perigo (o que andarão a fazer nos treinos?). O Benfica fez o segundo numa confusa jogada de João Neves na área - um pífio golo de um grandessís­simo jogador - enquanto o Porto fez dois golos em duas grandes jogadas de envolvimen­to, ambos anulados pelo VAR por offside: um por um palmo, outro por uma polegada. O Porto teve um penálti assinalado aos 5 minutos, mas, pela segunda jornada consecutiv­a, revertido pelo VAR, através de imagens inconclusi­vas e, segundo o cube, ocultando uma imagem que, essa sim, mostrava claramente o penálti. E ainda teve, aos 15 minutos, um empurrão nas costas de Evanilson, quando ele seguia lançado dentro da área, mas que nem ao árbitro nem ao VAR pareceu estranho. A primeira parte do Porto foi incomparav­elmente melhor do que todo o jogo do Benfica, mas o que fica para a história é dois pontos perdidos contra uma equipa que não teve um canto, um remate enquadrado e dispôs de 23% de posse de bola. Mas que, em contrapart­ida, estreou quatro dos dez reforços comprados agora em Janeiro, enquanto que o Porto estreou o Zé Ninguém.

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